segunda-feira, 29 de agosto de 2022

Godzilla

 Godzilla (1998)

Eu realmente nunca gostei de filmes com monstros ou robôs gigantes. Eu entendo que esse tipo de filmes tem muitos fãs, mas eles nunca conseguiram me conquistar. Em minha opinião, filmes desse gênero são sempre recheados de clichês, com roteiros muito decepcionantes e personagens humanos desinteressantes.

Porém, existe um filme de monstro gigante que eu realmente amo, a ponto de ter ele como um dos meus 50 filmes favoritos. Esse filme é “Godzilla”, o original de 1954, dirigido por Ishirô Honda e produzido pela lendária Toho Studios. Essa obra é simplesmente fantástica, com um roteiro fabuloso, atuações primorosas e personagens humanos realistas e interessantes, com os quais é possível empatizar de verdade. E o melhor de tudo, esse filme apresentou para o mundo um dos personagens mais lendários do cinema, o monstro atômico Godzilla, que conquistaria legiões de fãs pelo mundo todo ao longo dos anos.


Atualmente, o monstro Godzilla já conta com 32 filmes, divididos em três fases: AFase Showa, que vai de 1954 a 1975 e conta com 15 filmes, a Fase Heisei que vai de 1984 a 1995 e conta com 07 filmes e a Fase da Era Millenium, que vai de 1999 a 2004 e conta com 06 filmes. Além disso, existem alguns filmes independentes que não se encaixam em nenhuma das fases, além de séries animadas, histórias em quadrinhos e filmes produzidos fora do Japão com autorização da Toho.

Em meio a todas essas obras, existem alguns filmes muito bons como o original de 1954, “Godzilla vs. King Ghidorah” (1991), “Godzilla vs. Mothra” (1992) e “Shin Godzilla” (2016), e outros muito ruins como “O Filho do Godzilla” (1967), “Godzilla vs. Megalon” (1973) e a atrocidade “Godzilla: All Monster Attack” (1969).

Godzilla Vs King Ghidorah (1991), um dos melhores

Godzilla: All Monster Attack (1969), de longo o pior

Nos anos 1990, Godzilla estava no auge da sua popularidade, tanto no Japão quanto no restante do mundo. O lagarto atômico mais amado de todos os tempos tinha protagonizado alguns dos seus filmes mais interessantes na primeira metade dessa década e os produtos licenciados com sua imagem vendiam como água em todo o planeta, criando uma verdadeira Godzillamania.

Godzilla chegou a ter uma série animada produzida pelo estúdio Hanna-Barbera com duas temporadas entre 1978 e 1979...

... e teve uma série de histórias em quadrinhos publicados pela Marvel Comics entre 1977 e 1979

Tendo isso em mente, surgiu o projeto de um filme norte-americano de Godzilla. Esse projeto foi pensado originalmente pelo produtor Henry G. Saperstein e oferecido a Sony Pictures, para a Columbia Pictures e para a TriStar Pictures, mas todas rejeitaram a ideia, pois acreditavam que Godzilla era um personagem que apenas interessava as crianças e não renderia muito dinheiro em um filme de ação no estilo de Hollywood. Somente quando o produtor Cary Woods levou o projeto direto a Howard Peter Gruber, CEO da Sony, foi que a ideia começou a avançar.

Gruber deu o sinal verde para o projeto, o qual foi encarregado aos produtores da Tristar Pictures, uma das subsidiarias da Sony. Em 1992 foram adquiridos junto a Toho Studios, os direitos para uma adaptação cinematográfica norte-americana de Godzilla e a TriStar anunciou seus planos de criar um remake da obra original da Toho e produzir uma trilogia de filmes com o famoso monstro gigante.

Inicialmente foi contratado Jan de Bont como diretor e o filme devia ser lançado no verão de 1996. Sam Winston e sua famosa equipe de efeitos especiais foi contratada para produzir os efeitos do filme. Ted Elliot e Terry Rossio foram encarregados do roteiro. Mas, devido a discussões em relação ao orçamento, DeBont desistiu do projeto em 1994 e o filme entrou em ponto morto.

Jan de Bolt

Em 1996, Roland Emmerich foi contratado como novo diretor e Dean Devlin assumiu como o produtor principal do filme. Com a garantia da TriStar de que teriam liberdade criativa para realizar a obra da forma como acreditassem ser melhor, os dois começaram a trabalhar no projeto. Suas primeiras atitudes a frente da obra foram a descartar o roteiro inicial escrito por Elliot e Rossio, junto com todas as ideias criadas por De Bont. O objetivo era criar um filme completamente novo, que tivesse o espirito do monstro japonês original, mas que trouxesse uma imagem mais moderno.

Roland Emmerich

Dean Devlin

Para ajudar a consolidar toda a confiança concedida pelo estúdio a dupla Emmerich/Devlin, naquele mesmo ano de 1996 o diretor Emmerich lançou “Independence Day” e viu o filme se converter em um dos maiores sucessos de público, critica e bilheteria da década de 1990, rendendo mais de 800 milhões de dólares. Com esse histórico vencedor como apoio, Emmerich pode bancar todas as suas ideias na realização de seu novo filme.

Independence Day (1996)

Godzilla começa com imagens de testes nucleares realizados pelo governo francês nos territórios da Polinésia Francesa. A radiação das explosões atômicas termina atingindo um ninho de ovos de iguana, causando mutações.

Alguns anos depois, um navio de pesca japonês que navega pelo Oceano Pacífico é atacado por uma misteriosa criatura e apenas um marinheiro consegue sobreviver. Esse sobrevivente é resgatado e levado a um hospital no Taiti, onde acaba sendo interrogado por um misterioso homem francês. O sobrevivente responde as perguntas com uma única palavra: “Gojira”.

Nesse ínterim, somos apresentados ao Dr. Niko “Nick” Tatopoulos (Matthew Broderick), nosso protagonista, o qual está realizando pesquisas na Zona de Exclusão do desastre na usina de Chernobyl, na Ucrânia. O Dr. Tatopoulos está estudando os efeitos da radiação na fauna local, mas é interrompido por um agente do Departamento de Estado dos Estados Unidos, que precisa que Nick realize um trabalho importante para o governo americano.

E é aqui, em minha opinião, que o filme apresenta o seu maior defeito. Matthew Broderick é um ator bastante mediano e não consegue convencer como um protagonista em um filme de ação. Muitos fãs mais velhos ainda se lembram com carinho de seu trabalho mais reconhecido, o filme “Curtindo a Vida Adoidado” (1986) e reverenciam a capacidade de Broderick como ator, mas eu realmente não consigo engolir seu trabalho. Embora aceite a opinião favorável que muitas pessoas possam ter por ele, eu nunca gostei das atuações de Broderick e sempre que ele aparece em tela, na mina opinião, o filme decai imediatamente de qualidade.

Nick é levado até o Panamá, onde aparentemente uma criatura monstruosamente grande causou estragos em uma zona rural, deixando para trás enormes pegadas e um rastro de destruição. Enquanto está ali, conhece ao Coronel Hicks (Kevin Dunn) e a Dra. Elsie Chapman (Vicki Levis), os responsáveis por investigar o que aconteceu naquele lugar. Os três juntos assistem a uma fita VHS enviada pelo governo francês onde aparecem imagens do navio japonês atacado e do interrogatório do marinheiro sobrevivente.


Na cidade de Noiva York, somos apresentados a Audrey Timmonds (Maria Pitillo), uma jovem secretaria no canal de televisão WIDF News e que está buscando uma promoção em seu trabalho. Para conseguir sua promoção a repórter, Audrey trabalha como uma escrava para seu insuportável chefe, o apresentador Charles Caiman (Harry Shearer), o qual a explora de todas as formas possíveis. Ao ser assediada sexualmente por Caiman, que exige que ela realize um jantar íntimo para os dois em seu apartamento, Audrey percebe que o tamanho da enrascada em que está metida.

Na Jamaica, Nick, Elsie e o Coronel Hicks investigam um navio cargueiro que foi atacado por uma criatura enorme, a qual rasgou o casco do navio com suas garras. Enquanto realizam seu trabalho, são abordados pelo mesmo francês misterioso que interrogou o sobrevivente japonês no Taiti. O francês tenta conversar com o coronel, mas este termina expulsando-o.

Enquanto isso, a criatura se aproxima dos Estados Unidos. Alguns barcos de pesca são atacados e afundados nas águas territoriais americanas e tudo isso não faz nenhum sentido lógico. Aliás, nenhuma das atitudes do monstro faz sentido. Afinal, por que ele deixou as águas da Polinésia Francesa e nadou milhares de quilômetros até a América Central, cruzou o estreito do Panamá e entrou nas águas do Oceano Atlântico? O roteiro do filme dá a entender que a criatura fez isso em busca de peixes para comer. Mas isso também não faz sentido. Se ela necessita de peixes, bastaria seguir as correntes oceânicas e caçar os grandes cardumes que existem em alto mar. Atacar barcos de pesca ou de carga para obter comida é algo completamente sem propósito, haja visto que a criatura poderia obter muito mais alimento com muito menos esforço apenas comendo os peixes que encontrasse livres no mar. Além disso, cruzar o estreito do Panamá pé algo absurdo. Afinal, como a criatura soube que havia outro oceano do outro lado do estreito? E por que trocar de oceano? A criatura entediada? Nada faz sentido.

Porém, fazendo sentido ou não, a criatura chega à Nova York. Enquanto isso, Nick apresenta sua teoria de que a criatura é uma espécie animal mutada pela radiação dos testes nucleares na Polinésia Francesa, descartando a teoria da Dra. Chapman de que se trata de um dinossauro que sobreviveu a extinção de seus semelhantes e permaneceu oculto durante centenas de milhares de anos.

Em Nova York, Audrey reclama com seus amigos sobre o comportamento asqueroso de seu chefe. É nesse momento que ela percebe uma reportagem na televisão da lanchonete onde está e vê Nick durante sua passagem pelo Panamá. Somos então informados de que estes dois tiveram um relacionamento na universidade e parece que ainda existe um forte sentimento entre eles.

Mas não temos tempo para romance. A criatura chegou à cidade e começa a deixar um rastro de destruição por onde passa. Emergindo do oceano em uma cena incrível no porto da cidade, o monstro avança lentamente pelas ruas, causando pânico e desespero nos nova-iorquinos, acabando inclusive com um comício do prefeito.

Uma das cenas mais recordadas deste filme acontece quando um dos amigos de Audrey, o cameraman Victor Palotti (Hank Azaria) se coloca no meio da rua para poder filmar o monstro e quase é esmagado pela gigantesca pata da criatura. Me lembro de ter visto esta cena quando criança e de ter ficado abismado com ela.

O vídeo gravado por Victor é divulgado na televisão e informa todo o país sobre a situação catastrófica. Percebendo o tamanho (literalmente) do problema, os militares assumem o controle da situação e ordenam a evacuação imediata da ilha de Manhattan. O Dr. Nick e a Dra. Elsie se juntam ao comando militar para tentar elaborar uma solução para a crise.

Enquanto isso, Audrey resolve fazer uma última tentativa para conseguir sua promoção. Percebendo que Nick está trabalhando junto com os militares no comando militar em Nova Jérsei, ela tenta convencer seu chefe a deixá-la ir até lá para conseguir mais informações sobre a criatura. Infelizmente, Caiman continua se comportando como um machista asqueroso e rejeita as ideias de Audrey. Ela, porém, consegue roubar o crachá de imprensa de Caiman e parte para Nova Jérsei com o objetivo de conseguir as informações a qualquer custo.

O prefeito Ebert (Michael Lerner) concorda com a evacuação ordenada pelos militares e transfere seu gabinete para fora de Manhattan. Quando seu helicóptero pousa fora da ilha é recebido por um grupo de empresários furiosos com os danos que a evacuação irá causar em seus negócios. Entre estes empresários está o francês misterioso, o qual aproveita a situação para plantar uma escuta nas roupas do prefeito.


Os militares descobrem que o monstro está usando os tuneis do metrô da cidade para se esconder (algo que realmente não entendo, pois não me parece que a criatura possa caber nestes tuneis). Com o objetivo de atrair a criatura para fora, uma armadilha é preparada, com uma enorme pilha de peixes cercada por tanques de guerra e tropas armadas no famoso cruzamento entre a Fifth Avenue, a Broadway e a 23rd Street. Toda essa movimentação é observada de longe pelo francês misterioso e seus colegas.

O cruzamento entre a Fifth Avenue, a Broadway e a 23rd Street

O plano funciona e a criatura emerge do subterrâneo para comer. É nesse momento que podemos ver seu enorme corpo por inteiro pela primeira vez. Enquanto o monstro gigantesco come, os militares abrem fogo, mas não conseguem feri-lo. Durante o combate, o lendário edifício Flatiron Building é destruído. O monstro foge e é perseguido por helicópteros Boeing Ah-64 Apache. Durante a perseguição, os helicópteros acabem destruindo outro famoso edifício da cidade, o Chrysler Building. Aparentemente, o maior perigo para Manhattan não é a criatura, mas sim os militares enviados para enfrentá-la.


Flatiron Building

Chrysler Building

A operação militar termina com um fracasso completo e os helicópteros são destruídos. Ao retornar a Nova Jérsei, Nick se reencontra com Audrey. Inicialmente, os dois não parecem não se sentir muito confortáveis com o reencontro, mas logo a situação parece se relaxar um pouco e Nick leva Audrey até seu laboratório improvisado, onde os dois conversam sobre a natureza da criatura que está destruindo Manhattan. É durante esta conversa que Nick faz uma importante descoberta e brinda a audiência com uma das cenas mais criticadas deste filme. Usando um teste de gravidez de farmácia, ele descobre que a criatura está gravida. E isso é completamente absurdo. Como é possível que um simples teste de gravidez desenvolvido para analisar o nível hormonal de uma mulher humana, um mamífero que se reproduz por gestação interna, seja capaz de demonstrar a gravidez de um anfíbio mutante que se reproduz através de ovos? Claramente esse filme ignora completamente todos os conceitos sobre biologia, tanto humana como animal.

Baseado em sua absurda descoberta, o Dr. Nick deduz que o monstro é hermafrodita e veio até Nova York para fazer um ninho para colocar seus ovos. Fascinado por estas deduções, Nick resolve levar estas informações ao comando militar e pede que Audrey espere por ele ali no laboratório.

E mais uma vez somos apresentados a uma situação sem nenhum sentido lógico ou explicação. Afinal, por que Godzilla escolheu Noiva York para fazer seu ninho? Segundo o Dr. Tatopoulos, a criatura escolheu a cidade pois é uma ilha enorme, cercada de água e onde pode se esconder perfeitamente. E tudo isso é uma bobagem sem tamanho. Se Godzilla queria uma ilha como ninho, poderia ter escolhido entre centenas de ilhas desabitadas que existem no Oceano Pacífico, onde poderia se esconder e teria a vantagem de não ser perturbada por um monte de humanos fortemente armados e decididos a exterminá-la.

Logo que fica sozinha no lugar, Audrey descobre uma fita VHS com as imagens sobre o que aconteceu no Panamá e o interrogatório do marinheiro japonês sobrevivente do primeiro ataque e a rouba para entregar ao seu chefe e conseguir sua promoção.

Entretanto, para azar de Audrey, seu chefe termina roubando sua matéria e atribuindo a si mesmo todos os méritos pelas informações obtidas. Usando as imagens roubadas por Audrey, Caiman faz uma reportagem bombástica e nomeia a criatura como Godzilla após cometer um erro de tradução da palavra dita pelo sobrevivente japonês. Ao mesmo tempo, os militares assistem a reportagem na televisão e acreditam que Nick é o responsável por ter divulgado as imagens. Assim sendo, descartam a teoria de Nick de que a criatura pode estar grávida e o expulsam da equipe.

Desolado, Nick resolve partir de Nova Jérsei. Antes de sair da cidade, porém, ele se encontra com Auydrey e declara estar muito desapontado por ela ter traído sua confiança e roubado a fita com as imagens. Depois de discutir com Audrey, Nick toma um taxi para o aeroporto, mas acaba sendo recolhido pelo misterioso francês que esteve observando a situação até este momento. O francês se apresenta como Philipe Roaché (Jean Reno), um agente do serviço secreto francês que lidera uma equipe de comandos de forças especiais com a missão de destruir Godzilla e limpar o nome da França, antes que surja um escândalo internacional e a situação saia definitivamente fora de controle.

Os franceses recrutam Nick para ajudá-los a destruir o ninho de Godzilla, que eles descobrem que está localizado dentro do estádio do Madison Square Garden. Enquanto isso, Godzilla emerge do subsolo e enfrenta o exército americano, no que parece ser a batalha final.

Embora não tenha sido um fracasso de bilheteria (custou 130 milhões de dólares para ser produzido, mais 80 milhões em marketing e divulgação e arrecadou mais de 379 milhões de dólares), Godzilla foi muito criticado tanto pelos fãs do monstro japonês quanto pela critica especializada, principalmente devido ao seu roteiro fraco, a atuação pouco dedicada de alguns membros do elenco e a direção errática de Roland Emmerich. Devido a todas essas críticas e por não terem conseguido alcançar a bilheteria desejada (lembrando que para um filme ser considerado realmente lucrativo este deve render, no mínimo, o triplo do que custou), os planos originais da TriStar para uma trilogia foram definitivamente enterrados.

Matthew Broderick e maria Pitillo durante um evento de divulgação de Godzilla

Roland Emmerich junto com Matthew Broderick e Jean Reno durante as filmagens de Godzilla

O principal problema foi o desastre financeiro ocasionado pelo fracasso do licenciamento da marca Godzilla. Os produtores imaginavam que o filme seria um sucesso avassalador nos moldes de “Independence Day” e isso geraria uma fortuna com a venda de produtos licenciados como mochilas, roupas, tênis, bonés, bicicletas e brinquedos variados. Por isso, investiram pesado em marketing e divulgaram o filme em todas as mídias possíveis. Mas, ao contrário do que se imaginava, o filme não gerou o envolvimento esperado junto ao público, a mercadoria encalhou nas lojas e causou um enorme prejuízo as empresas que investiram nesse projeto.

Alguns exemplos da publicidade feita para Godzilla: "É tão longo quanto este sinal"...

... e um ônibus totalmente decorado com propaganda: "Sua pegada é mais longa que este ônibus", "Dos criadores de Independence Day. Godzilla. O tamanho importa."

Porém, apesar de todas as críticas e problemas, Godzilla conseguiu angariar uma pequena legião de fãs e inclusive deu origem a uma série animada com duas temporadas produzida pela Adeliade Productions. A série foi surpreendentemente bem feita e ajudou a elevar o número de fãs da versão americana de Godzilla. No Brasil, a série foi exibida a partir de 1999 pela Globo no programa Angel Mix, apresentado de segunda a sexta-feira pela Angélica, e teve um grande sucesso. Aliás, muitos espectadores brasileiros assistiram primeiro a série animada e somente tempos depois assistiram ao filme que deu origem a ela.

Godzilla, a série animada

No Japão, Godzilla teve a mesma recepção apresentada pelo público norte-americano: inicialmente, foi um sucesso expressivo, mas lentamente o entusiasmo do público foi decaindo ao longo das semanas. Muitos fãs japoneses disseram que se sentiram decepcionados com a obra. O ator Kenpachiro Satsuma, que interpretou Godzilla nos filmes da Fase Heisei, abandonou uma sessão do filme afirmando que “não é Godzilla, não tem o espírito dele”. Da mesma forma, Haruo Nakajima, que interpretou Godzilla em vários filmes da Fase Showa, também criticou o filme norte-americano e disse que o monstro do filme “parece uma iguana e seu corpo e membros parecem um sapo”. Apesar das críticas, a Toho faturou uma boa quantidade de dinheiro através dos direitos de adaptação. Com esse dinheiro, a Toho deu início a Fase Millenium de seu monstro atômico e lançaram, em 1999, “Godzilla 2000”. Um dos motivos declarados pela produtora japonesa para a realização deste filme foi a de apagar a imagem que tinha sido criada para o personagem pelo filme norte-americano. Para diferenciar o Godzilla original daquele criado pela TriStar, a versão de 1998 passou a ser chamado pelos japoneses de Zilla.

Godzilla 2000 (1999)

Para dar um final definitivo ao Zilla, o filme "Godzilla: Final Wars" (2004) colocou a versão norte-americana enfrentando a versão original japonesa e sendo derrotado da forma mais humilhante possível.




Os efeitos digitais hoje em dia parecem bastante medíocres, principalmente se comparados a obras modernas que contam com um CGI muito superior. Entretanto, na época de lançamento do filme foram bem aceitos pelo público. Eu mesmo fiquei deslumbrado por esses efeitos a primeira vez em que assisti ao filme. Porém, a medida que fui assistindo novamente o filme ao longo dos anos, pude perceber que os efeitos realmente deixar um pouco a desejar em certos momentos, com o monstro apresentando uma textura estranha e não se mesclando com seu entorno, parecendo muito claramente algo inserido de maneira artificial.

Inicialmente, a ideia de Emmerich era utilizar um animatrônico para simular os movimentos do monstro na maioria das cenas, deixando o CGI apenas para algumas cenas menos importantes. O animatrônico chegou a ser realmente construido e usado em algumas filmagens. Entretanto, a preocupação com os custos de produção e a demora nas filmagens terminou por colocar o CGI como a principal fonte dos efeitos e relegou os efeitos práticos a uma posição secundária.

Algumas imagens do animatrônico construído para as filmagens

Por outro lado, o design da versão norte-americana do Godzilla foi consideardo uma verdadeira heresia por grande parte dos fãs. Baseado em desenhos feitos por Patrick Tatopoulos, o monstro foi influenciado claramente pela febre por dinosssauros que varreu o público durante a década de 90, capitaneada pelo sucesso estrondoso de "Jurassic Park" (1993). Com uma mescla entre uma iguana e um tiranossauro, o design foi aprovado pelos executivos da Toho, mas não convenceu os fãs.

Um dos desenhos conceituais de Tatopoulos para o Godzilla

 O humor do filme é outro de seus defeitos. As piadinhas são totalmente deslocadas dentro do roteiro e não fazem sentido. Uma das piadas apresentadas é a de que o sargento O’Neal (Doug Savant), responsável pelas operações militares dentro da cidade, é gago e não consegue informar direito seus superiores. Outra amostra de “humor” é o fato de que nas poucas (pouquíssimas) vezes em que Godzilla usa seu sopro atômico, se houve o rugido de uma pantera.

O roteiro é muitas vezes absurdo e apresenta muitos furos. Além das muitas situações sem sentido (algumas das quais já abordei anteriormente), o espectador termina o filme com muitas mais perguntas do que respostas. Algumas das questões que nunca são respondidas durante o filme: Como os militares conseguiram evacuar a parte mais populosa da maior cidade do mundo em menos de um dia? Como Godzilla consegue se movimentar tão bem dentro de uma cidade que nunca havia conhecido antes, a ponto de conseguir realizar emboscadas aos militares e se ocultar rapidamente sem esforço?

Ao fim e ao cabo, Godzilla não é realmente um filme ruim, mas também não é uma obra digna o suficiente para ser considerado um filme bom. É, na verdade, um filme puramente guilty pleasure, que conquistou sua própria legião de fãs e permanece até os dias atuais como uma obra que marcou muitas infâncias.

 

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