Filmes Porcaria #2:
A Trilogia “Centopeia Humana”
Particularmente, esse tipo de obra não costuma me atrair. Entretanto, como apreciador da sétima arte, já assisti a alguns desses filmes, procurando apreciá-los com a mente aberta e buscando compreender qual o objetivo com que a obra foi criada e qual o sentido artístico e critico que ela possui.
E foi com esse mesmo intuito que
eu tive contato com a trilogia de filmes “Centopeia Humana”. Assisti aos três filmes
em um final de semana das minhas férias e cheguei a uma conclusão imediata:
Essas três montanhas de lixo não tem nenhum sentido e são meras porcarias
feitas com o intuito de chocar um público avido por coisas nojentas e pelo torture porn.
A Centopeia
Humana (2009)
Com direção do execrável Tom Six (um diretor que parece gostar muito de si mesmo e acreditar piamente que é um gênio e suas obras são pura arte), esse filme conta a tragédia de duas amigas, Lindsay (Winter Williams) e Jenny (Ashlynn Yennie), que estão viajando juntas de carro pela Alemanha. Em certo momento, o carro apresenta problemas e as amigas acabam paradas no meio de uma estrada. Em busca de ajuda, as duas chegam a uma casa, onde mora o Dr. Josef Heitir (Dieter Laser), um excêntrico cirurgião.
Não
demora muito para Lindsay e Jenny perceberem que o Dr. Heitir não é uma boa
pessoa e que está bastante louco. Ele droga as duas jovens e as leva até uma
sala de cirurgia improvisada. O objetivo do insano cirurgião é unir as jovens
junto com Katsuro (Akihiro Kitamura), um homem que já está preso nessa casa, em
uma bizarra criatura, unindo as bocas destes indivíduos aos anus dos outros indivíduos,
formando um único sistema digestivo. Heitir já fez uma experiência similar
antes, unindo três rottweilers, mas os infelizes animais acabaram morrendo.
A horrível experiência é realizada, com Katsumo na frente, Lindsay no meio (como punição pela jovem ter tentado fugir) e Jenny no final. Após o procedimento, se seguem cenas de Heitir as pobres vítimas de seu experimento como seu animal de estimação, ensinando-as como se locomover, como comer e, a pior parte, como defecar na boca uns dos outros.
Esse primeiro filme é o
menos gráfico dos três, com pouco gore e um enfoque menos destacado no grotesco
das cenas. A maior parte das nojeiras que fizeram esse filme famoso são
apresentadas no segundo ato e ocupam pouco tempo de tela.
As atuações são totalmente
medianas e pouco destacadas. A única atuação mais aprimorada, se podemos dizer
assim, é a de Dieter Laser, que imprime uma imagem realmente vivida de
cientista louco ao Dr. Heitir, com seu olhar vidrado, expressões perturbadas e
caminhar rígido.
A obra conquistou um
público ávido por experiências intensas e se tornou conhecida através do boca a
boca e dos fóruns da internet. Nessa época, franquias como “Jogos Mortais” e “O
Albergue” estavam em seu auge e o torture
porn tinha se tornado o novo Eldorado para o cinema de horror.
É claro que o filme é
totalmente vazio de sentido e não possui nenhuma mensagem, critica ou
interpretação mais profunda. Porém, Tom Six percebeu que poderia gerar curiosidade
entre o público com a premissa absurda e a promessa de cenas chocantes.
Entretanto, esse filme
não é chocante nem grotesco. É apenas decepcionante e vazio.
A Centopeia Humana 2 (2011)
Com o “sucesso” do
primeiro filme, a sequência foi lançada dois anos depois. Desta vez, Tom Six
resolveu recompensar seu público com aquilo que eles buscavam: cenas nojentas e
grotescas, com gore gráfico e torture
porn.
Logo de início, descobrimos que no universo dessa nova obra o filme anterior existe e é conhecido. Um dos “apreciadores” da obra original é Martin Lomax (Laurence R. Harvey), um tipo patético e com óbvios desequilíbrios mentais, que vive com sua mãe abusiva e suporta uma vida miserável. Uma das poucas coisas que alivia sua existência é assistir “A Centopeia Humana” (imagine-se o quão horrível deve ser uma vida para que uma pessoa tenha que se sentir contente vendo um lixo tão espantoso como esse), filme pelo qual é obcecado.
Aqui não há sutilezas ou subterfúgios.
Tom Six optou pelo caminho fácil e recheou sua sequência com o suprassumo do
que havia de mais repulsivo. Em uma cena da pior qualidade, Martin se masturba
usando uma lixa, enquanto assiste “A Centopeia Humana”. Tudo é sujo, malcuidado
e expressa um clima de depressão e degradação, clima acentuado pela filmografia
toda em preto e branco. Mas, não se engane, pois nada disso serve para nenhum objetivo
além de chocar o público. Mesmo a metalinguagem que abre o filme não tem nenhum
proposito maior.
Mergulhado em sua obsessão,
Martin resolve pôr em prática as ideias do Dr. Heitir e criar sua própria experiência,
unindo doze infelizes em uma criatura humano/centopeia. Mais uma vez, o roteiro
vai pelo caminho fácil: não há nenhuma explicação de como Martin capturou suas vítimas
ou como conseguiu ocultar doze sequestros das autoridades, alimentando-os e
mantendo-os vivos em um galpão. O roteiro existe apenas com o um fio condutor
entre as cenas grotescas e até mesmo os poucos diálogos são todos autoexplicativos,
simples e diretos. Tudo para que o filme consiga entregar ao seu público o que
foi prometido: asco, nojeira, violência e, é claro, torture porn. E o público, aparentemente, ficou satisfeito com o
que recebeu (demonstrando o seu nível de bom gosto), pois o incansável Tom Six
prometeu uma terceira obra aos seus “fãs”, para ser entregue o mais breve
possível.
A Centopeia Humana 3 (2015)
Apesar das promessas de Tom
Six, o terceiro filme demoraria alguyns anos a mais para ser produzido, devido
a problemas de financiamento (afinal, quem gostaria de investir em algo assim?)
e distribuição (quem gostaria de distribuir algo assim?).
Nesse filme, temos o retorno de Dieter Laser, agora interpretando a Bill Boss, diretor de uma penitenciária norte-americana de segurança máxima que está enfrentando problemas de disciplina com seus prisioneiros. Também está de volta Laurence R. Harvey como Dwight Butler, o assistente do diretor Boss.
A metalinguagem também
está de volta, pois ambos os filmes anteriores existem no universo desta obra e
Butler, que parece ser um fã de ambas, sugere diversas vezes a Boss que use aos
prisioneiros da penitenciária em uma experiência de centopeia humana, como
forma de manter a disciplinas.
Se no primeiro filme a
atuação de Laser era a melhor de todas como um cientista insano e misantropo,
neste terceiro filme o ator parece ter optado por elevar essa atuação à enésima
potência, atuando de maneira mais exagerada possível, gritando, fazendo caretas
e agindo sempre da maneira mais estridente. O personagem Bill Boss é racista,
misógino, sociopata e sádico, tratando todos ao seu redor como lixo,
principalmente Butler e sua secretaria Daisy (interpretada pela ex-atriz pornográfica
Bree Olson), a qual obriga a fazer sexo com ele e molesta sexualmente sempre
que pode.
Para piorar a situação, o Governador Hughes (Eric Roberts, mostrando que sua carreira foi para o brejo definitivamente) aparece na prisão para exigir que Boss de um jeito para controlar os prisioneiros ou será demitido.
Então, Butler sugere novamente
a Boss que use o método da “centopeia humana” do Dr. Heitir para disciplinar os
detentos. Em outra metalinguagem, o próprio Tom Six aparece em cena
interpretando a si mesmo, para explicar a Boss o princípio “cientifico” em que
se baseou sua obra. Revoltado, Boss expulsa o diretor aos gritos e insulta seus
filmes.
Como a disciplina na penitenciaria não melhora, Boss finalmente aceita a ideia de Butler e cria uma enorme “centopeia humana” com os detentos, criando a imagem que seria usada para promocionar o filme.
Após mostrar, em seus
primeiros filmes, que não tem o menor talento para o horror e o drama, Tom Six
resolveu mostrar nesse terceiro filme sua falta de talento para a comédia e o
humor negro. Esse filme parece uma mostra de cenas absurdas, com um tom muito
mal executado, onde a “centopeia humana” aparece apenas por poucos minutos,
mostrando claramente que o diretor não sabia mais o quer fazer com ela. O roteiro
é muito cheio de furos e as atuações são todas tão exageradas, com diálogos tão
espalhafatosos, que dão as cenas um ar de improviso.
É risível pensar que um diretor de uma instituição penitenciaria em pleno século XXI possa torturar, castrar e até fazer experiências com seus prisioneiros sem sofrer nenhuma consequência. Para piorar, o próprio Governador Hughes concorda com a ideia da “centopeia humana” sem precisar pensar muito, como se estivesse diante da solução perfeita para seus problemas.
Ao fim e ao cabo, a trilogia “A Centopeia Humana” é uma junção de três filmes vazios, que parte de uma premissa que conseguiu despertar a curiosidade de um publico desejoso de emoções intensas, mas que nunca conseguiu apresentar nada realmente importante ou relevante, migrando do horror a comédia de humor negro, fracassando em conseguir ser mais do que uma mera curiosidade grotesca.
Incansável, Tom Six
promete a algum tempo preparar um quarto filme, mas até o momento não conseguiu
arrecadar o orçamento necessário. Talvez ele consiga um dia realizar sua quarta
obra vazia com sua “centopeia humana, mas com certeza eu não irei assisti-la.
Já perdi muito tempo de
vida com as bobagens de Tom Six. Não vale a pena desperdiçar mais com outro de
seus filmes intragáveis.