Chopping Mall (1986)
Você já ouviu falar do diretor Jim Wynorski?
Não?
Pois não se preocupe. Até recentemente, eu também não conhecia o senhor Wynorski e sua filmografia, digamos, “original”.
Se você já assistiu a filmes como “Komodo Vs. Cobra” (2005), “Piranhaconda” (2012), “CobraGator” (2016) ou “DinoCroc Vs. SuperGator” (2010), você já teve algum contato com o trabalho do senhor Wynorski. Atualmente, ele é conhecido por produzir esse tipo de filme B de terror com animais gigantes, principalmente cobras, lagartos, crocodilos e aranhas. Geralmente, essas produções são realizadas pelo canal Syfy, um canal de TV a cabo norte-americano, conhecido por suas produções cinematográficas de qualidade duvidosa. Esse tipo de filmes realmente não me atrai, mas é inegável que os fãs desse modelo de cinema de terror barato têm muito a agradecer ao trabalho de Jim Wynorski.
Porém, nos anos 1980, o senhor Wynorski estava
apenas começando no ramo do cinema. Seu primeiro filme como diretor foi “The
Lost Empire” (1984). Na época, Wynorski trabalhava para ninguém mais, ninguém
menos que a lenda Roger Corman, um dos nomes mais conhecidos do cinema
independente. Corman gostou do trabalho de Wynorski como roteirista e diretor
iniciante e pediu que ele elaborasse um roteiro para um filme que a mulher de
Corman, Julie Ann, queria fazer. A senhora Corman queria produzir um filme de
terror que seria rodado dentro de um shopping center. Wynorski elaborou um
roteiro em apenas dois dias e o apresentou ao casal Corman, que gostou tanto
desse roteiro que ofereceu a direção do filme para o próprio Wynorski, que
aceitou a oferta.
Assim nasceu Chopping Mall.
O filme começa com um ladrão roubando uma joalheria em um shopping center. Após recolher todas as joias da vitrine, o criminoso começa a fugir do local, mas é detido por uma voz, que ordena que ele pare e solte sua arma. Ao se virar para confrontar o dono da voz, o ladrão se depara com um robô segurança. Sorrindo maliciosamente, o criminoso atira contra a máquina, esperando destruí-la. Porém, para a surpresa do meliante, o robô parece ser a prova de balas. Decidido a fugir, o ladrão começa a correr, mas o robô dispara um taser nas costas do criminoso e o eletrocuta. O ladrão cai ao solo e o robô se aproxima de seu corpo, olha para a câmera e um letreiro escrito The End (fim) aparece na tela.
“O que? O filme já acabou?”, o espectador se
pergunta.
Calma, meus amigos. O que acontece é que esta primeira cena se trata de um comercial da empresa Secure-Tronics, fabricante dos Robôs Protetores, uma espécie de segurança automatizada e computadorizada para áreas comerciais. Essa empresa está fazendo uma apresentação de seu produto para os comerciantes do shopping center Park Plaza Mall, onde esse sistema de segurança acaba de ser instalado.
Através dessa apresentação, ficamos conhecendo os tais Robôs Protetores, uma espécie de seguranças robóticos de última geração, mas que parecem cafeteiras que se movem com esteiras. Três dessas “cafeteiras” foram instaladas no Park Plaza e irão patrulhar os corredores do prédio após o encerramento do expediente. O responsável pelo desenvolvimento dessas “maravilhas” tecnológicas, o Dr. Stan Simon (Paul Coufos), garante que seus robôs são perfeitamente seguros e capazes de realizar seu serviço de vigilância com total eficiência, mas nem todos os comerciantes parecem convencidos, principalmente um casal que fica fazendo piadas sobre os robôs durante a fala do Dr. Simon. Este, porém, não se abala e garante que seu sistema de segurança é infalível. Ao concluir sua apresentação, o Dr. Simon declara: “Absolutamente nada pode dar errado.”
Ao ouvir essa frase, o espectador pode ficar
tranquilo, sabendo que absolutamente tudo dará errado.
Após a apresentação dos robôs, o filme nos brinda com uma sequência de cenas cômicas, para entrarmos no clima de shopping. Começando com a inexplicável cena de uma criança tomando sorvete sozinha em um elevador, elevador este que para em um andar e imediatamente se enche de passageiros. Quando o elevador para em outro andar e os passageiros descem, a criança está toda suja de sorvete. Outra cena mostra um rapaz roubando algo de uma loja, de maneira totalmente discreta. Segue-se a cena de um menino andando de skate pelo shopping, enquanto desvia de várias garotas em trajes de banho (?) usando faixas de miss (??), onde estão escritos dizeres como “Têm uma Bola”, “Leve as Crianças” e “O Futuro Agora” (???). Ao mesmo tempo, acompanhamos a cena de uma mulher equilibrando uma bandeja carregada de cachorros quentes e copos plásticos grandes cheios de Coca-Cola. A pobre mulher faz um esforço enorme para carregar a bandeja e desviar das outras pessoas, apenas para derrubar tudo ao chegar em sua mesa.
Após esse festival de cenas engraçadinhas, começamos a conhecer os protagonistas humanos do filme. Suzie (interpretada pela musa do terror trash Barbara Crampton) e sua amiga Allison (Kelli Maroney) trabalham em uma pizzaria no Park Plaza Mall. O lugar é um verdadeiro restaurante cinco estrelas, com uma clientela seleta e um serviço de primeira qualidade. Só Que Não! O dono do lugar usa um avental imundo, limpa seus utensílios de cozinha nesse mesmo avental, fuma durante o atendimento e ainda coloca o cigarro em cima das pizzas dos clientes. Já os clientes são representados por um homem obeso que come pizzas em grande quantidade e de forma pouco elegante, sujando sua roupa com comida e mastigando de boca aberta, além de tentar paquerar as garçonetes.
Essa cena na pizzaria serve para apresentar a
característica principal desse filme: o que importa aqui é divertir o público,
pouco importando se as piadas ou situações possam ofender algum grupo ou
agredir qualquer senso moralista do espectador. Esse é um filme dos anos
oitenta, feito em uma época em que o atual conceito de politicamente correto
não existia e os diretores e roteiristas eram muito mais livres para inserir
certos elementos em suas obras, sem medo de sofrerem qualquer forma de
patrulhamento. Talvez a grande graça desse filme resida exatamente nesse ponto,
por ser um filme que não precisa se levar a sério em nenhum momento e pode
apelar para qualquer recurso possível para entreter seu público.
Enquanto Suzie e Allison trabalham na pizzaria, uma grande tempestade de raios se forma sobre a cidade. Alguns desses raios acabam atingindo a antena de controle no topo do shopping, ocasionando uma queda de energia, que afeta o computador central. Basta essa pequena falha e o sistema de segurança “infalível” do Dr. Simon é totalmente destruído. Os robôs se ativam e matam o funcionário responsável por cuidar do computador, que estava convenientemente distraído olhando uma revista pornográfica que ele havia encontrado dentro do manual do computador.
Após essa cena de morte muito mal feita, somos apresentados aos protagonistas masculinos do filme, todos eles personagens clichês de filmes de terror. Temos Mike (John Terlesky) como o rapaz bonitão e babaca, Greg (Nick Segal) como o amigo boa pinta e descolado e Ferdy (Tony O’Dell) como o nerd tímido e estudioso. A essa alegre coleção de estereótipos irão se juntar Leslie (Suzee Slater) como a namorada desmiolada de Mike, o casal Rick (Russell Todd) e Linda (Karrie Emerson) como o casal mais maduro, além de Suzie e Allison. Esse grupinho de amigos combinou de fazer uma festinha na loja de móveis do tio de Ferdy, após o fechamento do shopping. Suzie e Greg, que são namorados, pretendem aproveitar a festa para apresentarem Allison para Ferdy e tentar fazê-los iniciarem um namoro.
Inicialmente, tudo parece dar certo. A festa começa e os amigos bebem e dançam tranquilos. Ferdy e Allison se conhecem e é amor à primeira vista. Os casais resolvem aproveitar as camas da loja para praticar um pouco de sexo, afinal ninguém é de ferro. Enquanto isso, o novo casal assiste a um filme de terror e aproveitam para se conhecerem melhor.
Tudo parece estar indo muito bem, mas os robôs assassinos rondam nos corredores. A primeira vítima das máquinas é outro funcionário responsável pelo computador central, que chega para render seu colega. Ao chegar na sala do computador, o funcionário não encontra seu colega, que foi morto anteriormente pelos robôs. Achando que o colega saiu mais cedo, o funcionário se senta em frente ao computador e começa a ler um livro. Aproveitando sua distração, um robô o mata de uma forma ridícula, usando um pequeno gancho. Logo depois, um faxineiro (interpretado por Dick Miller) se converte na seguinte vítima dos impiedosos autômatos, quando é eletrocutado por uma descarga elétrica de um taser.
Enquanto isso, Mike sai da loja de móveis para comprar cigarros para Leslie e é atacado por outro robô, tendo seu pescoço cortado. Percebendo a demora do namorado, Leslie vai atrás dele e ao encontrá-lo morto, começa a gritar, atraindo a atenção de um robô, que explode a cabeça da garota com um laser, na cena mais famosa desse filme. Essa morte é acompanhada pelos outros jovens, que assistem a cena de dentro da loja de móveis. Percebendo que estão em uma enrascada sem tamanho, os jovens fogem e são perseguidos pelos robôs, que disparam lasers para todos os lados, destruindo a loja.
Nesse ponto do filme, o espectador já descobriu que os robôs, embora tenham um aspecto bem pouco intimidante, possuem um vasto arsenal: além dos lasers capazes de cortar carne e metal, eles também contam com garras capazes de cortar gargantas humanas facilmente, tasers capazes de eletrocutar pessoas com altas cargas elétricas, dardos tranquilizantes, ganchos e cabos fortes e resistentes e até mesmo explosivo plástico (!). Se tudo isso já não fosse suficiente, os robôs também tem controle sobre diversos sistemas do prédio, podendo controlar esses sistemas à vontade. Na minha opinião, esse arsenal todo é um pouco de exagero para máquinas que deveriam apenas patrulhar um estabelecimento comercial, mas quem sou eu para criticar, não é mesmo? Afinal, apenas com esse arsenal os robôs podem atuar como assassinos frios e sem emoções, que após matar uma vítima, declaram com sua voz mecânica: “Tenha um bom dia.”
Para enfrentar essas monstruosidades eletrônicas, os jovens resolvem se separar em dois grupos: as meninas fogem através dos dutos de ventilação do prédio, enquanto os rapazes vão até uma loja de artigos esportivos para conseguir algumas armas. E que armas! Enquanto Greg pega uma escopeta calibre 12mm, Ferdy resolve pegar um revólver Magnum .44 e Rick escolhe um fuzil de assalto M16. Com esse arsenal nas mãos, mais um botijão de gás propano, eles estão prontos para enfrentar seus inimigos mecânicos e, ao mesmo tempo, protagonizar algumas das cenas mais irrealistas e sem sentido da história do cinema.
Chopping Mall é o típico filme de ficção cientifica barata que costumávamos assistir na televisão durante as tardes nos anos 80 e 90. Com um orçamento pequeno, mas muita criatividade e alguns atores conhecidos, o filme foi produzido para conseguir abocanhar uma pequena parte do enorme negócio das fitas VHS que havia explodido desde o inicio da década de 1980.
Ao fim e ao cabo, um filme divertido, impregnado com a melhor atmosfera dos anos 80 e que vale a pena dar uma conferida. Com certeza, o melhor filme da carreira de Jim Wynorski.