Microwave Massacre/O Massacre do Micro-ondas - 1983
Chamar esse filme de absurdo
é elogiar demais. Produzido em 1979, mas lançado apenas em 1983, com um orçamento de menos
de 100 mil dólares e dirigido por Wayne Berwick, Microwave Massacre é
aquele tipo de obra cinematográfica trash típica dos gloriosos anos 1970 e 1980,
onde o politicamente incorreto não existia e praticamente tudo era permitido.
O filme começa mostrando ao que veio, com os títulos iniciais aparecendo abaixo do generoso busto de uma moça que está caminhando pela rua. Essa mesma moça resolve espiar através de um buraco em um tapume que cerca uma construção. Enquanto espia os operários, um homem que está passando na rua apalpa as nádegas da moça, o que faz com que ela se assuste e prenda seus seios no buraco do tapume. Isso mesmo que você leu. De um jeito completamente inexplicável e totalmente absurdo, a moça consegue enfiar os seios no buraco e eles ficam presos, o que atrai a atenção dos operários tarados da obra.
Essa cena inicial não possui
nenhum propósito na trama e serve unicamente para mostrar os generosos seios da
atriz para os espectadores, atiçando a libido da platéia masculina, mas deixa
claro que estamos diante de um filme que não deve ser levado a sério.
Enquanto alguns operários lutam para alcançar os seios presos no buraco, somos apresentados ao nosso protagonista, Donald (Jackie Vernon), um zé ninguém que leva uma vida infeliz a não mais poder. Tem um trabalho cansativo e pouco valorizado, está na meia idade e não tem muitas perspectivas na vida e, para completar a desgraça, é casado com May (Claire Ginsberg), uma mulher que ele não ama mais e que insiste em cozinhar as comidas mais exóticas e intragáveis.
Essa falta de habilidade culinária de May é mostrada logo na primeira cena de Donald. Quando chega a hora do almoço na obra, Donald fica visivelmente constrangido vendo seus colegas comendo sanduíches normais de peru, carne ou frango, com expressões bastante satisfeitas no rosto enquanto mastigam seus lanches. Com uma cara de vergonha e humilhação, Donald desembrulha um enorme sanduíche e tenta escondê-lo de seus colegas. Mas Donald não é um glutão inveterado, que come de forma exagerada e quer esconder sua comida de seus colegas. Não, o motivo da vergonha de Donald é que sua esposa preparou para ele um sanduíche de caranguejo, com um enorme caranguejo inteiro enfiado no meio de duas enormes fatias de pão e enrolado em folhas de alface. O crustáceo está ainda com a casca, as patas e as pinças intactas, o que torna impossível comer o sanduíche. Donald é obrigado a ficar apenas olhando seus colegas comerem, sem poder saciar sua fome.
Essa cena já estabelece o quanto Donald é um pobre desgraçado e como a comida de sua mulher é intragável. Revoltado e faminto, Donald volta para casa ao final do expediente e tem que encarar um jantar com sua mulher, que preparou outra comida sem pé nem cabeça, para desespero de Donald.
O casamento de Donald e May já foi para o vinagre há muito tempo e os dois parecem se odiar mutuamente, discutindo e se confrontando verbalmente por qualquer motivo. Parece difícil acreditar que pessoas tão diferentes puderam se casar. Enquanto Donald é um homem simples e normal, que tudo que parece desejar é uma vida tranquila e, principalmente, comida normal, May é uma típica mulher de meia idade cafona e extravagante. A casa em que vive o casal é decorada de forma tão brega que chega a doer os olhos (e nada me tira da cabeça que esta casa era usada como cenário para filmes adultos) e a pobre May insiste em fazer as comidas mais complicadas e extravagantes possíveis, mesmo que seu marido não esteja nem um pouco interessado nas “guloseimas” preparadas pela esposa, se contentando com um simples ovo frito. Para coroar a situação, May (como toda boa perua) tem um cachorrinho irritante e nervoso, que Donald odeia, mas May trata como um bebê.
A situação prossegue sem muitas mudanças por mais alguns dias, com May atormentando Donald com sua comida, que ela prepara em um micro-ondas novo que comprou apenas para poder preparar seus pratos “maravilhosos”. Esse eletrodoméstico logo se tornara um elemento importante na trama (como o próprio título do filme deixa claro).
Uma noite, após mais um dia
cansativo de trabalho, Donald chega bêbado em casa e é confrontado por May, o
que acaba gerando outra discussão entre o casal. Com sua paciência no limite,
Donald acaba explodindo e resolve dar um jeito naquela situação de uma vez por
todas. Após cuspir água na comida de May e sujar toda a sala da casa com o pó
do saco do aspirador, Donald exige que sua esposa prepare um sanduíche de
queijo para ele e o sirva na garagem, ao que a mulher reage jogando o prato de
comida na sua cabeça. E essa é a gota d’água. Tomado de ira, Donald ataca May e
a mata ali mesmo, na sala de jantar.
A cena de assassinato de May é um dos pontos altos do filme, devido ao absurdo da cena e a atuação propositadamente exagerada de Jackie Vernon. Logo após ter um prato de comida jogado em sua cabeça, o ator olha diretamente para a câmera e faz uma cara de raiva impagável, deixando claro que chegou ao seu limite.
Durante o seu
ataque de fúria, enquanto golpeia a cabeça de May com um saleiro de madeira,
Donald resolve fazer uma pequena pausa e jogar um pouco de sal por cima do
ombro para espantar o azar. Depois de cumprir esse pequeno ritual, Donald recomeça
a bater na cabeça de May como se nada de anormal tivesse acontecido. Para
completar o festival de esquisitices, após conseguir matar sua esposa, Donald
dá mais uma olhadinha direta para a câmera e faz uma expressão de alívio que
transita entre o sublime e o vergonhoso. Além disso, o ator ainda dá uma
pequena balançada de cabeça para a câmera, como se estivesse a dizer aos
espectadores: “Isso fica só entre nós”. É simplesmente hilariante.
Ao acordar no dia seguinte com uma tremenda ressaca, Donald não se lembra do que fez e sai à procura de sua mulher, para que ela lhe prepare o café da manhã. Ao não encontra-la, nosso protagonista vai até a cozinha para preparar ele mesmo sua comida e termina encontrando o corpo de sua mulher no micro-ondas. “Oh, May está no micro-ondas”, declara Donald, um pouco antes de se dar conta do que realmente aconteceu com sua esposa e exclamar para a câmera “Talvez ela quisesse partir desta forma”.
Agora livre do incômodo doméstico, Donald desmembra o corpo de May, envolve seus pedaços em papel alumínio e os esconde na geladeira, deixando para depois a tarefa de decidir o quer fazer com os restos. Para seus colegas no trabalho, ele inventa a desculpa de que está se separando de sua esposa e que ela não irá mais perturbá-lo.
Algum tempo depois, ao estar em casa faminto e querer um lanchinho noturno, Donald termina cozinhando por engano uma das mãos de May no micro-ondas. Inesperadamente, após o choque inicial de perceber o que está comendo, Donald aprecia o sabor da carne de sua esposa morta e resolve aproveitar os restos de May para preparar suas refeições.
Porém, não é só dos prazeres da comida que Donald sente falta após seu longo e infeliz casamento. Por isso, uma noite ele sai pela cidade em busca de companhia e termina trazendo uma prostituta para sua casa. Enquanto eles fazem sexo, Donald não resiste e acaba matando a mulher, para depois poder devorá-la. Assim começa a busca insaciável de Donald por mais vitimas femininas para cozinhar em seu micro-ondas.
Microwave Massacre é um filme de comédia de humor negro onde não há limites para o absurdo das situações mostradas em tela. Todos os personagens são caricatos e atuam de forma estranha, desde os amigos tarados de Donald na obra, passando por sua vizinha ninfomaníaca (que chega ao ponto de trabalhar em seu jardim usando um vibrador para fazer as covas para as sementes), chegando ao médico que joga tiro ao alvo usando seringas como dardos.
O roteiro está recheado de piadas mórbidas, as quais não são muito engraçadas, diga-se de passagem, mas conseguem entreter o público principalmente devido à atuação de Jackie Vernon.
Praticamente tudo na trama tem o objetivo de fazer piada, o que causa que muitas das situações apresentadas em tela simplesmente surjam do nada e/ou se resolvam rapidamente, de modo a abrir espaço para a comédia. O principal ponto em que se pode ver isto é no fato de que o vício de Donald em carne humana surge logo depois dele experimentar a carne de sua esposa e progride rapidamente, ao ponto de o protagonista se transformar em um serial killer da noite para o dia, caçando mulheres para se alimentar delas.
Entretanto, nada disso consegue obscurecer a graça desse filme, que consegue divertir qualquer fã de cinema trash. As piadas podem ser bobas e pouco inspiradas, mas muitas delas conseguem fazer rir pelo completo absurdo. É muito divertido ver Donald indo fazer uma sessão de terapia e contar abertamente sobre seus assassinatos e canibalismos, apenas para percebermos no final que o psiquiatra que o atende estava dormindo o tempo todo e não ouviu nada do que Donald disse. Ou ver Donald convidar seus amigos com sanduíches de carne humana, ao mesmo tempo em que solta pequenas frases engraçadinhas sobre de que carne eles estão provando, algo que os personagens não entendem, mas que os espectadores compreendem logo de cara. Mais uma vez, a atuação caricata de Jackie Vernon é o ponto alto do filme.
Eu, com certeza, recomendo o filme se você gosta de piadas de humor negro e sabe apreciar filmes politicamente incorretos.