segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

A Experiência

 A Experiência (1995)

Em um laboratório de pesquisas no deserto de Mojave, na Califórnia, uma equipe de cientistas está monitorando uma jovem garota (Michelle Willians) que está dentro de uma espécie de gaiola de vidro. Enquanto a menina observa em silêncio, vários técnicos começam a instalar cilindros de cianeto de hidrogênio no sistema de ventilação da gaiola. Assim que o gás é liberado, a menina percebe o perigo e tenta pedir por ajuda. Como nenhum dos presentes parece interessado em ajudá-la, a menina se joga contra o vidro da gaiola, conseguindo quebrá-lo.

Uma vez fora de seu confinamento, a menina consegue despistar a patética segurança do laboratório e escapa para o deserto. Perseguida por veículos e helicópteros, ela consegue se esconder em um trem de carga e escapa novamente aos seus perseguidores.

No dia seguinte, uma equipe é montada para rastrear o paradeiro da menina fugitiva. Esta equipe é formada pelo Dr. Stephen Arden (Alfred Molina), um antropólogo, a Dra. Laura Baker (Marg Helgenberger), uma bióloga, Dan Smithson (Forest Whitaker), um sensitivo paranormal e Preston Lennox (Michael Madsen), um mercenário e assassino profissional. Esse grupo se reúne no laboratório onde a menina estava confinada inicialmente e recebem as informações através do responsável pelo projeto, Xavier Fitch (Bem Kingsley).

Em 1974, o programa SETI (Search for Extraterrestrial Intelligence- Busca Por Inteligência Extraterrestre) enviou uma mensagem ao espaço usando o radiotelescópio de Arecibo, em Porto Rico. Essa mensagem continha algumas informações, tais como a posição de nosso sistema solar e a estrutura completa do DNA humano. Em 1992, uma resposta a mensagem enviada foi finalmente recebida. Essa mensagem de origem extraterrestre continha duas informações: uma delas era uma fórmula para que a humanidade pudesse utilizar o hidrogênio como uma fonte de energia praticamente ilimitada. A outra era uma sequência de DNA alienígena, junto com informações sobre como combinar o DNA humano com o DNA alienígena.

A chamada “Mensagem de Arecibo” foi realmente enviada ao espaço em 1974 e continha as mesmas informações apresentadas no filme. Entretanto, levaram milhares, talvez centenas de milhares de anos até que esta mensagem possa realmente encontrar um receptor no espaço profundo. Por outro lado, o radiotelescópio de Arecibo foi inaugurado em 1963 e durante décadas foi um importante instrumento de pesquisa cientifica. Também foi cenário para filmes como “007 contra GoldenEye” (1995) e “Contato” (1997). Porém, a partir de 2016 o radiotelescópio passou a perder relevância e finalmente se desmoronou em 1º de dezembro de 2020, quando sua antena se soltou dos cabos de sustentação e caiu sobre o prato refletor, inutilizando definitivamente o equipamento. Depois desse incidente, o equipamento foi demolido e atualmente não existe mais.

O radiotelescopio de Arecibo em seu auge... 
... e após o desabamento
Momento em que a antena principal do radiotelescópio se soltou de seus cabos e desabou
Esquema da "Mensagem de Arecibo" enviada ao espaço em 1974

Convencidos de que estavam lidando com uma espécie amigável, os cientistas resolveram realizar a experiência de fusão dos DNAs, o que terminou resultando em Sil, uma hibrida humana-alienígena que recebeu o nome de Sil. O crescimento celular de Sil é muito mais rápido do que o de um ser humano normal, o que fez com que ela crescesse rapidamente, atingindo o corpo de uma menina de doze anos em apenas alguns meses. Porém, percebendo que era impossível se comunicar com ela, os cientistas responsáveis pelo projeto concluíram que a experiência era um fracasso e resolveram terminar com seu trabalho e eliminar a menina, o que terminou resultando em sua fuga. Agora a equipe montada por Fitch deve caçar e eliminar Sil antes que ela cause mais problemas.

Enquanto a equipe está sendo reunida, Sil deixou o trem de carga e embarcou em um trem de passageiros. Após roubar a mala de outro passageiro, a menina se esconde em uma cabine e assalta a despensa do trem para conseguir comida. Após se empanturrar com uma quantidade absurda de comida, a menina acaba sofrendo uma estranha transformação. Horríveis tentáculos com forma de verme rompem sua pele e a prendem em um casulo. Pouco depois, uma condutora entra na cabine de Sil e termina morta por uma forma estranha que está se formando no casulo.

Horas depois, uma mulher adulta (Natasha Henstridge) emerge do casulo. Sil parece ter passado por uma metamorfose e se transformou em uma forma mais desenvolvida de si mesma. Vestida com a roupa da condutora morta, Sil desce do trem na cidade de Los Angeles, onde tentará encontrar um parceiro para se reproduzir.

O filme constrói um paralelismo muito bom ao mostrar Sil caçando um parceiro ao mesmo tempo em que a equipe de Fitch caça Sil. Enquanto Sil vai desenvolvendo suas habilidades, ao mesmo tempo em que mata impiedosamente, a equipe de Fitch vai rastreando seus movimentos e aprendendo as características de sua presa. Em busca de mais respostas sobre o que realmente Sil é, os caçadores resolvem desenvolver um espécime apenas com DNA alienígena, para tentar descobrir alguma fraqueza. Esta tentativa dá lugar a uma das cenas mais tensas do filme, com o resultado da experiência crescendo de maneiras descontrolada, como se fosse um câncer superdesenvolvido, e colocando as vidas de Lennox e Laura em risco.

Devido a sua genética híbrida, Sil consegue aprender certas habilidades como ler ou dirigir um veículo de maneira bastante fácil. Também consegue desenvolver suas capacidades sociais muito rapidamente, convivendo entre os seres humanos com bastante desenvoltura. A inteligência de Sil é tamanha que esta, ao perceber que está sendo caçada por Fitch, consegue elaborar um plano para fingir sua morte e se livrar de seus perseguidores, chegando inclusive a amputar um de seus dedos para deixar como pista falsa no local do acidente.

O roteirista Dennis Feldman teve a ideia original para este filme em 1987, após ler um artigo escrito por Arthur C. Clark, onde o famoso escritor mostrava que a possibilidade de que uma nave extraterrestre pousasse um dia na Terra são praticamente ínfimas, devido à enorme dificuldade para se transpor as enormes distâncias existentes no espaço sideral. Assim sendo, a única possibilidade para que houvesse um contato entre humanos e uma cultura alienígena seria através de comunicações de rádio. Após trabalhar nesta ideia durante vários anos, Feldman apresentou um script inicial para o produtor Frank Mancuso Jr., que percebeu que aquela ideia tinha muito potencial. Logo, a Metro-Goldwyn-Mayer (MGM) resolveu apostar nessa ideia e trouxe o diretor Roger Donaldson para fazer o filme.

Para qualquer pessoa que assista A Experiência, ficam óbvias as semelhanças com “Alien, O Oitavo Passageiro” (1979). Pois estas semelhanças não são mera coincidência. Mancuso e Donaldson procuraram o lendário artista H. R. Giger para que este criasse o design da criatura alienígena. Giger foi o criador do icônico design do xenomorfo da franquia Alien e ficou muito contente com a oportunidade de desenvolver a criatura pedida por Mancuso e Donaldson. Usando conceitos criados por ele em seu livro de ilustrações Necronomicon de 1977, Giger criou um ser claramente alienígena, mas também carregado de sensualidade. Porém, devido a problemas pessoais, Giger não pode se envolver mais diretamente na construção da obra.

H.R. Giger 

O filme aposta bastante na sexualização da personagem Sil e explora ao máximo a beleza de Natasha Henstridge, cujo belo corpo é mostrado em várias cenas. Esse apelo sexual desagradou aos críticos, que afirmaram na época que o filme era apenas uma coleção de cenas de nudez desnecessária, mescladas com cenas de violência e gore exagerado.

Por outro lado, o principal defeito do filme que costuma incomodar o público são os efeitos digitais datados. Embora o filme conte com efeitos práticos bastante efetivos, principalmente a maquiagem da forma alienígena de Sil, aqueles efeitos gerados por computador são claramente inferiores, mesmo para a época em que foram feitos.

O elenco de A Experiência é formado por nomes relativamente conhecidos e famosos, começando por Natasha Henstridge, que na época era uma modelo e que teve sua estreia no cinema nesse filme. Posteriormente, ela atuaria em vários outros filmes, inclusive em “Bela Donna” (1998), um filme filmado no Brasil, dirigido por Fábio Barreto e com participação de atores brasileiros como Eduardo Moscovis, Letícia Sabatella e Guilherme Karam. Da mesma forma, Michael Madsen é conhecido por atuar em filmes de Quentin Tarantino como “Cães de Aluguel” (1992), “Kill Bill: Volume 1” (2003) e “Os Oito Odiados” (2015). Forest Whitaker atuou em filmes como “O Último Rei da Escócia” (2006) e “Pantera Negra” (2018). Alfred Molina é famoso como o Dr. Octopus de “Homem-Aranha 2” (2004). Marg Helgenberger ganhou fama atuando na série “CSI: Investigação Criminal” (2000-2013). Entretanto, o ator mais reconhecido do filme é Ben Kingsley que atuou em obras consagradas como “A Lista de Schindler” (1993) e ganhou um Oscar de Melhor Ator por “Gandhi” (1982).

Natasha Henstridge em "Bela Donna"
Michael Madsen em "Os Oito Odiados"
Forest Whitaker em "O Último Rei da Escócia"
Alfred Molina em "Homem-Aranha 2"
Marg Helgenberger em "CSI: Investigação Criminal"
Ben Kingsley em "Gandhi"

Com um orçamento de 35 milhões de dólares, A Experiência rendeu mais de 113 milhões de dólares na bilheteria. Com um retorno financeiro bastante satisfatório, a MGM resolveu apostar em uma sequência, que seria lançada em 1998, mas que acabaria se revelando um fracasso, apesar de ser um filme tão divertido quanto o original. A franquia ainda teria mais duas sequências, lançadas em 2004 e 2007, mas nenhuma delas conseguiria alcançar o reconhecimento do filme original e são de uma qualidade muito inferior, decepcionando os fãs da franquia. Da mesma forma, o filme também ganhou uma versão em livro, escrita por Yvonne Navarro com base no roteiro de Dennis Feldman, além de duas versões em história em quadrinhos, sendo que uma delas teve seu roteiro escrito pelo próprio Feldman.

"A Experiência 2", de 1998: uma sequência divertida para o original
"A Experiência 3", de 2004: um filme tenebroso de tão ruim
"A Experiência 4", de 2007: uma porcaria completa

Ao fim e ao cabo, A Experiência é um filme divertido, que apresentou ao público uma criatura icônica e deu origem a uma franquia de terror que conta com um bom número de fãs. Não é uma obra-prima, mas com certeza é interessante e merece ser apreciada.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

Van Helsing

 

Van Helsing – O Caçador de Monstros (2004)

1887. Transilvânia.

            Uma horda de aldeões enfurecidos avança pela floresta, armados com tochas, foices e forcados, se dirigindo a um castelo sombrio e aterrador, onde uma criatura monstruosa está despertando.

Esse monstro é uma criação do Dr. Victor Frankenstein (Samuel West), um cientista que deseja criar vida a partir da união de pedaços de cadáveres humanos, animados pela energia de raios elétricos. A pesquisa do Dr. Frankenstein foi financiada pelo Conde Drácula (Richard Roxburgh), um poderoso vampiro que parece ter interesses obscuros nas experiências do doutor. Porém, devido a que o Victor, com a ajuda de seu assistente corcunda Igor (Kevin J. O’Connor), esteve violando tumbas para roubar as partes dos cadáveres para seus estudos, o povo local ficou enraivecido com ele e estão prestes a invadir o castelo.


Convencido de que Victor não possui mais utilidade em seus planos, Drácula o mata mordendo seu pescoço e sugando seu sangue. Esse ato desperta a fúria do monstro, que se solta da cama onde estava amarrado e ataca Drácula, jogando o vampiro nas chamas de uma lareira. Desesperado, o monstro pega o corpo do Dr. Frankenstein em seus braços e foge do castelo em direção a um moinho abandonado (que, estranhamente, está cheio de garrafas de absinto), mas é perseguido pela multidão, que ateia fogo ao lugar, matando a criatura. Isso enfurece Drácula e suas noivas, os quais lamentam a perda do monstro.

1888. Paris.

Abraham Van Helsing (Hugh Jackman), um famoso caçador de monstros (que neste filme, ao contrário da obra de Bram Stoker, não é um estudioso cientista e pesquisador de meia idade e sim um homem jovem treinado em combate e com poucas habilidades intelectuais), está procurando um assassino pelas ruas da capital francesa. A perseguição termina na Catedral de Notre Dame, onde Van Helsing confronta Mr. Hyde (Robbie Coltrane), o alter ego monstruoso do Dr. Henry Jekyll, que surge após este ingerir uma estranha poção inventada por ele mesmo. Após uma dura luta, Van Helsing consegue matar Hyde, mas termina sendo acusado de assassino.


Cartaz de "Procurado Vivo ou Morto" de Van Helsing, oferecendo 2 mil francos como recompensa

Após cumprir sua missão, Van Helsing retorna para o Vaticano, na cidade de Roma, para receber novas ordens. O caçador de monstros é parte dos Cavaleiros da Ordem Sagrada, uma espécie de organização secreta formada pela Igreja Católica e por membros de outras religiões, a qual se dedica a caçar e eliminar criaturas monstruosas e malignas, de modo a proteger a humanidade.

Após ser questionado por seu superior devido aos seus métodos pouco sigilosos, Van Helsing é levado até o laboratório da ordem, onde conhecemos Carl (David Wenham), um frade cientista que cria máquinas, armas e tecnologias para os membros da ordem, como uma granada que emite luz solar e até mesmo uma metralhadora. Carl equipa Van Helsing (em uma cena que parodia as clássicas cenas dos filmes de James Bond onde Q equipa o agente 007 com os mais modernos engenhos tecnológicos) com os apetrechos clássicos para enfrentar vampiros: alho, água benta, crucifixos, estacas e, é claro, uma boa balestra metralhadora.


Van Helsing recebe a missão de ir até uma região na Romênia chamada Transilvânia. Nesse momento, o filme comete um erro histórico, pois em 1888 a Romênia e a Transilvânia eram províncias do Império Austro-Húngaro. Somente após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) é que a Romênia se tornou uma nação independente e a Transilvânia se tornou parte do território romeno. Esse erro é interessante, pois até este momento o filme estava sendo bastante preciso em sua representação histórica.

Outro ponto em que o filme peca é em reforçar a noção folclórica de que a Transilvânia é uma terra fria e obscura, cercada de névoa e sempre envolta em sombras. Embora essa seja a visão popular sobre este lugar, a verdade é que a Transilvânia é um local bastante agradável (principalmente durante o verão), com belas paisagens e que recebe milhares de turistas todos os anos, sendo inclusive a região mais rica e próspera da Romênia. Todavia, tal erro pode ser relevado em defesa da questão dramática do roteiro.

Brasov, na Transilvânia. Ao contrário da crença popular, um lugar lindo, verdejante e banhado de sol

A missão de Van Helsing é viajar até a Transilvânia para ajudar a família Valerious a matar Drácula (apresentado em um foto shop ridículo da pintura clássica de Vlad III, O Empalador, feita em 1560, onde o rosto do ator Richard Roxburgh foi inserido de maneira muito mal feita), o conde vampiro que comanda a região com um regime de terror e medo. A família Valerious está condenada a jamais entrar no céu enquanto não der fim à existência de Drácula. Após 400 anos fracassando em suas tentativas de derrotar o conde, restam apenas dois descendentes da família, os príncipes Anna (Kate Beckinsale) e Velkan (Will Kemp). O ancestral da família que deu início a sua caçada ao conde deixou para seus descendentes uma relíquia que contem um pedaço de pergaminho com uma inscrição em latim e um símbolo, o mesmo símbolo que aparece em um anel que Van Helsing porta em seu dedo anular, o que poderia explicar sobre o seu passado misterioso.

Decidido a encontrar respostas sobre suas origens, Van Helsing aceita a missão e parte para a Transilvânia, onde os irmãos Valerious estão ocupados caçando lobisomens. Apesar de usarem uma armadilha bem elaborada, o plano falha e Velkan termina sendo atacado pelo lobisomem e caindo de um abismo.


Pouco tempo depois, Van Helsing e Carl chegam a uma aldeia na Transilvânia e logo são hostilizados pelo povo local, que parece não gostar nenhum pouco de forasteiros. Entre a multidão que os cerca está um homem com roupas escuras e cartola (Tom Fisher), o mesmo que incitou a multidão contra o Dr. Frankenstein no inicio do filme e Anna Valerious, a qual interroga os forasteiros e tenta convencê-los a entregar suas armas. O interrogatório é interrompido por um ataque das noivas de Drácula, Aleera (Elena Anaya), Verona (Silvia Colloca) e Marishka (Josie Maran), três vampiras que tentam matar Anna. Uma luta encarniçada acontece e, no fim, Marishka é morta por Van Helsing e as demais noivas fogem.


Após o combate, Anna aceita unir forças com Van Helsing na luta contra o conde.


Enquanto isso, Drácula está abalado com a morte de Marishka e discute com suas noivas restantes o porquê delas não terem matado Anna Valerious. A cena oscila entre o ridículo da atuação exageradamente afetada de Richard Roxburgh e a beleza dos efeitos especiais mostrando o conde caminhando pelas paredes e o teto. Outro primor de erros é o roteiro. Durante a cena, o conde declara para suas noivas que não possui emoções, ao mesmo tempo em que demonstra tristeza pela morte de sua noiva, raiva pelo fracasso de seu plano e solta inexplicáveis gargalhadas. Para um ser supostamente sem emoções, esse Drácula parece muito mais um vampiro bipolar.

No castelo dos Valerious, Van Helsing e Anna discutem sobre como matar Drácula. A princesa quer ir sozinha em busca do conde, enquanto Van Helsing quer preparar um plano de ataque e sugere que atuem juntos. Quando percebe que não vai conseguir convencê-la, Van Helsing usa um spray sonífero e adormece Anna.

Quando desperta, Anna é atacada por um lobisomem que conseguiu se infiltrar no castelo. Ela atira na fera e foge para outra sala, onde encontra seu irmão Velkan, que tenta avisá-la sobre qual é o segredo do Drácula. Mas então, as nuvens que encobriam a lua cheia somem e Velkan começa a se transformar. Ele é o lobisomem que atacou Anna, pois quando caiu do abismo lutando com o lobisomem que ele e sua irmã tentaram capturar, este acabou ferindo Velkan e contaminando-o com a maldição da licantropia.

Van Helsing aparece e o lobisomem foge. O caçador persegue a fera até a cidade e chega perto de matá-la, mas é impedido por Anna, que ainda tem esperanças de curar seu irmão. Rastreando as pegadas do lobisomem, os dois chegam ao castelo do Dr. Frankenstein, onde Drácula, Igor e um grupo de estranhos duendes estão trabalhando nos equipamentos do doutor. E é aqui que descobrimos qual é o plano de Drácula: o conde pretende usar os experimentos do Dr. Frankenstein para dar vida aos inúmeros filhos que teve com suas noivas ao longo dos séculos. Como Drácula e suas noivas são mortos vivos, seus filhos são todos natimortos e ele acredita que poderá fazê-los viver com o auxilio da ciência.

A primeira tentativa do conde foi feita usando o pai de Anna e Velkan como condutor e terminou em fracasso. Agora, ele pretende usar Velkan como condutor e ver o que acontece.

A experiência tem início e os filhos de Drácula despertam e voam junto com suas mães em direção a cidade para se alimentar. Tentando evitar um massacre, Van Helsing começa a matar os filhotes usando uma escopeta. Estranhamente, os filhotes do conde são muito mais frágeis que seu pai e morrem com apenas um disparo. Furioso com isso, Drácula ataca e temos o primeiro confronto entre o conde e Van Helsing.

Durante o confronto, Van Helsing consegue enfiar uma estaca de prata no coração de Drácula. Mas isso não funciona e o conde se livra facilmente do ataque, as mesmo tempo em que revela que ele e Van Helsing têm um passado em comum e se conhecem há vários séculos. Chamando Van Helsing pelo nome de Gabriel, Drácula revela que seu nome é Vladislaus Draculia e teria nascido em 1422 e sido assassinado em 1462. Assim, o filme se afasta da crença popular de que o conde Drácula foi o príncipe da Valáquia Vlad III, o Empalador (nascido em 1431 e morto em 1476), que era conhecido como Dracul, devido a pertencer a Ordem do Dragão e ser parte da importante linhagem dos Drăculești.

Vlad III Dracul, O Empalador, Príncipe da Valáquia. Pintura a óleo de 1560.

Enquanto Drácula e Van Helsing conversam, os filhotes do conde começam a morrer. Aproveitando a distração do conde, Van Helsing foge, encontra Anna e ambos escapam do castelo, indo parar no mesmo moinho onde o monstro do Dr. Frankenstein terminou sendo queimado pela multidão. No moinho, eles descobrem que a criatura segue intacta e vive em uma espécie de subsolo. O estranho é que Drácula nunca buscou pelo corpo da criatura.

Enquanto isso, Carl salvou uma jovem durante o ataque dos vampiros filhotes e, em agradecimento por ser salva, a jovem faz sexo com ele, aproveitando que Carl é apenas um frade e não fez voto de castidade. Ao acordar na manhã seguinte, Carl descobre uma tela escondida em uma das paredes do castelo. A tela tem uma profecia escrita em latim e uma pintura de dois cavaleiros se enfrentando. Carl tem uma espécie de delírio místico e vê os cavaleiros se transformarem em um lobisomem e um vampiro e se enfrentarem. Por que esta pintura estava escondida? Quem a escondeu? Por que Carl teve seu delírio? Essas são questões para as quais nunca teremos resposta.

No moinho, Van Helsing e Anna confrontam o monstro, que revela que somente com seu corpo como catalisador, Drácula poderá dar uma vida duradoura a seus filhotes. Van Helsing usa dardos narcóticos para adormecer a criatura e resolve levá-la para Roma para ser protegida, embora Anna deseje matá-la imediatamente.

A viagem será em uma carruagem puxada por cavalos e rende algumas das cenas mais épicas (e também absurdas) do filme. No final da viagem, Verona é morta por uma armadilha e Van Helsing mata Velkan, mas termina sendo mordido por ele e é amaldiçoado com a licantropia. Da mesma forma, Anna é capturada por Aleena e levada para Roma, onde o conde pretende trocá-la pelo monstro de Frankenstein.

Van Helsing não pretende aceitar a troca e esconde o monstro em uma cripta. Enquanto isso, Drácula organizou um baile de máscaras, onde os convidados são outros vampiros (inclusive, aparecem até algumas crianças vampiro) e onde ele dança com Anna e tenta seduzi-la para que se torne uma das suas noivas. De onde surgiram estes outros vampiros? São seguidores de Drácula ou apenas vampiros independentes que foram convidados para esta festa? Se existiam tantos vampiros assim na Europa, por que Van Helsing nunca tinha ouvido falar deles e nunca havia enfrentado um vampiro antes? A resposta para todas essas questões é muito simples: nunca saberemos.


Van Helsing e Carl aparecem na festa e resgatam Anna (em uma cena de resgate em que a princesa deveria ter, no mínimo, quebrado duas ou três costelas). Todavia, os vampiros encontraram o monstro de Frankenstein e Drácula ordena que os demais matem Van Helsing. O herói foge e Carl termina matando os vampiros com sua granada de luz. Mas, apesar de terem escapado do perigo imediato, agora os heróis devem retornar a Transilvânia para o confronto final com o conde vampiro, antes que a madição da licantropia transforme Van Helsing em uma fera incontrolável.

Apesar de contar com um elenco de atores razoavelmente conhecidos e talentosos como Hugh Jackman (o Wolverine dos filmes da saga X-Men), Kate Backinsale (conhecida pela personagem Selene da saga Anjos da Noite), Robbie Coltrane (o Hagrid da saga Harry Potter) e Richard Roxburgh (reconhecido por séries como Rake e Bali 2002), possuir um CGI muito bom para o início dos anos 2000 e contar com uma fotografia lindíssima, Van Helsing foi muito criticado quando foi lançado, principalmente devido ao roteiro fraco e pouco ousado.

Hugh Jackman como Wolverine

Kate Beckinsale como Selene

Robbie Coltrane como Hagrid

Richard Roxburgh atuando em Rake

Geralmente, eu costumo ignorar completamente a opinião da chamada “critica especializada”, pois considero essa opinião muito restrita e elitista, geralmente elaborada por indivíduos excessivamente pretensiosos e de visão muito limitada, preocupados mais em reforçar seus próprios conceitos pré concebidos do que em avaliar de maneira objetiva uma obra. Entretanto, desta vez eu terei que dar o braço a torcer para a crítica, pois concordo que Van Helsing realmente deixa muito a desejar em termos de roteiro. Afinal, uma obra que tenta unir elementos clássicos da mitologia de horror como vampiros e lobisomens e ainda usa como base as três obras principais do horror gótico (Drácula de Bram Stoker, Frankenstein de Mary Shelley e O Médico e o Monstro de Robert Louis Stevenson), deveria no mínimo ter se esmerado mais em elaborar um roteiro melhor e mais digno, que ao menos tentasse honrar essas obras tão importantes.

Bram Stoker, autor de "Drácula"

Mary Shelley, autora de "Frankenstein"

Robert Louis Stevenson, autor de "O Médico e o Monstro"

Apesar de ter seus momentos divertidos e até empolgantes, Van Helsing peca pela falta de ousadia e originalidade. O filme não passa de um amalgama de outras obras mais famosas e melhor elaboradas, tais como “Frankenstein” de 1931 (referenciado na clássica cena do “It’s Alive!”, a fala clássica de Colin Clive como Dr. Frankenstein), “O Médico e o Monstro” e “Drácula” de 1941, entre outros. As melhores cenas do filme, inclusive, vêm da refilmagem de cenas destas obras clássicas. No restante, Van Helsing é recheado de atuações exageradas e caricatas, diálogos pseudo filosóficos e furos de roteiro.

O diretor e roteirista Stephen Sommers não quis arriscar ao criar sua obra e apenas juntou vários elementos de obras clássicas (tanto filmes quanto livros) e elaborou uma mitologia básica que tenta juntar todos os elementos em uma trama bastante simples. Nenhum desses elementos é realmente aprofundado ou discutido na trama e os poucos pontos coerentes e significativos não foram realmente elaborados por Sommers, apenas retirados do trabalho de autores mais competentes e capazes como Bram Stoker ou Mary Shelley. O estranho é que esse mesmo Stephen Sommers foi também o diretor e roteirista dos clássicos filmes “A Múmia” de 1999 e “O Retorno da Múmia” de 2001, onde ele conseguiu utilizar elementos de obras clássicas e criar uma obra moderna com uma mitologia criativa e envolvente. Aparentemente, ele acabou perdendo parte de sua habilidade criativa ao longo dos anos.

Stephen Sommers

"A Múmia", de 1999

"O Retorno da Múmia", de 2001

Por outro lado, embora não tenha sido um fracasso de bilheteria (com um custo de 60 milhões de dólares, arrecadou 300 milhões de dólares), Van Helsing não conseguiu agradar uma boa parcela do público e terminou por enterrar a idéia da Universal de realizar mais filmes com monstros clássicos de horror. Esta idéia somente seria retomada uma década depois com “Drácula: A História Nunca Contada” (2014) e “A Múmia” (2017) e novamente terminaria em fracasso.

"Drácula: A História Nunca Contada", de 2014: Um fracasso de público e crítica

"A Múmia", de 2017: Outro fracasso de público e crítica

Um dos defeitos mais criticados pelo público foi o abuso que o filme faz do clichê do vilão que tem o herói indefeso em seu poder e que, ao invés de matá-lo, terminando de uma vez por todas com a disputa, opta por fazer longos monólogos vazios explicando suas motivações ou soltar frases de efeito toscas ou então ficar apenas arremessando o herói nas paredes, sem matá-lo de maneira definitiva, permitindo que este consiga se recuperar e, ao final, tomar a vantagem e eliminar o vilão. Outros defeitos recorrentes são as atuações demasiado caricatas e exageradas e os inúmeros furos no roteiro.

Um erro do filme que aparece nas cenas passadas em países diferentes é o desentendimento climático. Enquanto as cenas passadas na Transilvânia contam com neve e um clima de princípio de inverno, as cenas passadas em Paris e Roma se passam em um clima de verão, com um sol resplandecente e nenhum sinal de neve.

Van Helsing daria origem a um videogame criado pela Vivendi Universal Games e a um jogo caça-níquel criado pela International Game Technology. Recentemente, o filme começou a ser visto por alguns como um filme B interessante, no estilo “tão ruim que fica bom”.

Ao fim e ao cabo, Van Helsing é um filme divertido, porém fraco e cujo maior defeito está no fato de que poderia ter sido uma obra muito melhor, mas que parece ter parado na metade do caminho.

 

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