sexta-feira, 8 de abril de 2022

O Massacre da Serra Elétrica 2

 O Massacre da Serra Elétrica 2 (1986)

Em 1974, o mundo foi apresentado a “O Massacre da Serra Elétrica”, uma verdadeira obra-prima do cinema de terror, considerado por muitos como o melhor filme do gênero slasher.

Dirigido por Tobe Hooper e roteirizado por Kim Henkel, “O Massacre da Serra Elétrica” foi um sucesso de público, critica e bilheteria. Muito desse sucesso se deveu ao incrível trabalho de direção de Hooper e ao fabuloso esforço de produção, tudo feito com um orçamento ínfimo de 300 mil dólares. Porém, o baixo orçamento foi compensado pela competência da equipe e o talento dos envolvidos. E assim, a imagem de Leatherface (magistralmente interpretado por Gunnar Hansen) como um assassino implacável e a família Sawyer como o clã de canibais sádicos ficaria eternamente marcada na cultura pop.

Tobe Hooper

Surpreendente, mesmo com todo o sucesso que conquistou e a enorme admiração que construiu ao seu redor, a obra de Tobe Hooper somente foi ter uma sequência doze anos depois. Mas, o mais surpreendente foi a virada total que Hooper daria para seu trabalho para produzir esta sequência, trocando o terror brutal e cru do primeiro filme (o qual havia levado a obra a ser banida em vários países, inclusive no Brasil) pelo humor negro e a sátira mordaz.

Em 1984, Hooper firmou um contrato com a mitológica produtora Cannon Filmes, de propriedade dos primos israelenses Menahem Golam e Yoram Globus, para a realização de três filmes, sendo que o último deles seria a sequência do filme de 1974. Nessa época Hooper já era muito mais reconhecido como diretor, não apenas devido ao sucesso de seu primeiro filme, como também graças ao seu trabalho junto com Steven Spielberg em “Poltergeist” (1982). Devido a isso, os primos Golam e Globus disponibilizaram mais de 4 milhões de dólares para que Hooper produzisse sua sequência.

Inicialmente, Hooper pretendia contar com Kim Henkel novamente no roteiro, que continuaria a história de Sally Hardest, a sobrevivente do primeiro filme (interpretada por Marylin Burns, que seria homenageada pelos fãs com o título de “Rainha do Grito”). Entretanto, como não foi possível contar com Henkel, Hooper contratou o texano L. M. Kit Carson (conhecido na época por ter feito o roteiro de “Paris, Texas” de 1984, um drama bastante elogiado, dirigido por Wim Wenders) para escrever o roteiro, o qual acabou sendo modificado várias vezes até dar origem a trama que seria retratada nas telas.

L. M. Kit Carson

O Massacre da Serra Elétrica 2 começa com os jovens Buzz (Barry Kinyon) e Rick (Chris Douridas), que estão viajando em uma rodovia isolada no Texas. Os dois rapazes estão indo para o estádio Cotton Bowl, na capital texana Dallas e aproveitam sua viagem para beber e atirar nas placas de trânsito na beira da estrada. Os dois garotos usam o telefone do carro e ligam para a K-OKLA, uma rádio local, onde são atendidos pela DJ Vanita “Stretch” Brock (Caroline Williams). 


Os jovens são uns babacas e a pobre DJ Stretch não consegue fazer com que desliguem, sendo obrigada a mantê-los no ar por um tempo. E é então que o carro de Buzz e Rick passa por uma picape e são atacados por ninguém mais ninguém menos que Leatherface (Bill Johnson), que usa sua icônica motosserra para cortar o teto do carro e assassinar os rapazes. Todo o ataque, incluindo os gritos de morte dos jovens, é transmitido pela rádio e termina gravado por Stretch. 

No dia seguinte, a polícia está investigando o local do crime. E é nessa cena que surge Boude “Lefty” Enright (Dennis Hopper), um tenente da polícia que está investigando a vários anos os crimes da família Sawyer. Lefty tem um motivo pessoal para querer encontrar a família de canibais: ele é tio de Franklin e Sally, os irmãos que aparecem no primeiro filme. Entretanto, ninguém parece levar a sério as suspeitas de Lefty e a maioria dos outros policiais o vê como um louco obcecado (algo que parece ser verdade, conforme veremos no decorrer da trama).

Mesmo sem apoio oficial, Lefty acredita que está no caminho certo e pretende continuar suas investigações. Ele é então contatado por Stretch, que quer mostrar para ele a fita dos últimos momentos de Buzz e Rick. Inicialmente o tente se recusa a ouvir a DJ (algo totalmente inexplicável, afinal ele está a treze anos buscando por uma pista e quando essa pista finalmente aparece, ele se recusa a ouvi-la), mas depois é convencido e pede que a moça toque a fita na rádio, para que o público ouça e entenda o perigo que a família Sawyer representa. Stretch concorda, mas o que ela não sabe é que o plano de Lefty é usa-la como isca para atrair os Sawyer.

Enquanto isso, somos apresentados a Drayton Sawyer (Jim Siedow), o irmão de Leatherface, conhecido como o Cozinheiro no primeiro filme, o qual está participando de um concurso de melhor chili com carne dos estados do Texas e Oklahoma. Aqui cabe um pequeno adendo: para quem não conhece, Chili é uma palavra em espanhol que se refere a um molho feito à base de pimenta. Entretanto, Chili também é o nome de um prato tradicional da culinária mexicana, feito com pimenta, feijão e carne moída, e é a esse tipo de chili que o filme se refere. No concurso também estão presentes Stretch e seu colega LG Mc Peters (Lou Perryman), que estão transmitindo o concurso para sua rádio. Ao ser anunciado como o vencedor do concurso, Drayton declara que o segredo de seu sucesso é que ele tem “um bom olho para carne de qualidade. É de família.”. Quem conhece a família Sawyer já deve imaginar a que tipo de carne o Cozinheiro está se referindo.

Na cena seguinte, vemos Lefty chegar a uma loja de motosserras chamada Cut-Rite, onde o tenente se arma para combater os Sawyer. Lefty compra duas motosserras pequenas para usar com apenas uma mão e uma motosserra grande de duas mãos. Animado pelo dono da loja, ele resolve testar as motosserras em um tronco especialmente colocado para isso na frente da loja, e nos brinda com uma cena antológica, onde fica claro que o tenente não regula bem, da cabeça e está realmente obcecado com enfrentar a família Sawyer.


Durante a viagem de volta após vencer o concurso, Drayton recebe uma ligação e é informado que uma rádio está transmitindo uma fita que incrimina sua família no assassinato dos jovens do início do filme. Revoltado com o amadorismo de seus familiares, Drayton ordena que resolvam o problema imediatamente.

Naquela noite, Stretch está sozinha na rádio quando é abordada pelo personagem mais memorável deste filme: Chop Top (Bill Moseley), outro irmão de Leatherface, que parece ter servido no Vietnã, de onde voltou com uma placa de metal na cabeça. Chop Top atua como um maluco completo, falando frases desconexas e atuando de maneira errática. Outra característica marcante do personagem é o fato de que ele usa um gancho de arame para ficar coçando a placa de metal em sua cabeça, ao mesmo tempo em que tira pequenos pedaços da pele ao redor da placa e os come. A cena em que Stretch o descobre dentro da rádio é extremamente incômoda, com a DJ tentando fazer de tudo para se livrar do inconveniente visitante, a medida em que fica cada vez mais desesperada com a situação.

Porém, Chop Top não veio sozinho a rádio. Junto com ele está Leatherface, que ataca Stretch. A garota consegue fugir e se refugia em uma sala com uma parede de aço. Enquanto isso, LG chega a rádio e confronta Chop Top, mas termina nocauteado por Leatherface. 

Stretch se desespera ao ver Leatherface finalmente invadir seu esconderijo derrubando uma parede. Inicialmente, parece que o assassino mascarado vai matar a garota, mas ela consegue convencê-lo a deixá-la viva, apelando para os nascentes instintos sexuais dele. E nesse momento que somos brindados com a cena mais constrangedora desse filme, quando Leatherface esfrega sua motosserra na virilha de Stretch e parece estar tendo uma espécie de prazer sexual com isso.

Chop Top e Leatherface levam o corpo de LG embora e Stretch resolve segui-los. Ao mesmo tempo, Lefty também segue a dupla de assassinos. Todos acabam chegando a um parque de diversões abandonado chamado Texas Battle Land. Ali, Stretch acaba capturada pelos Sawyer e é levada para participar de um jantar com a família (em uma cópia descarada do jantar do primeiro filme, inclusive com uma cena do vovô Sawyer golpeando a protagonista na cabeça com um martelo). 

Enquanto isso, Lefty descobre o esqueleto mutilado de Frank em um dos túneis do local. Tomado de ira, o tenente resolve derrubar o local e começa a serrar as vigas de sustentação, enquanto grita insultos e desafios aos seus inimigos.


O Massacre da Serra Elétrica 2 não foi um fracasso de bilheteria (o filme rendeu 8 milhões de dólares nos Estados Unidos), mas diante do sucesso estrondoso do primeiro filme, foi uma queda bastante expressiva no faturamento. Também houve muitas criticas negativas e uma boa parte do público, principalmente os fãs da obra original, não gostaram do tom do filme. A maioria do público esperava um filme de terror na mesma linha do primeiro, e não aceitaram muito bem o humor negro e a sátira presentes nesta sequência. O próprio pôster do filme foi motivo de críticas, pois é uma cópia óbvia do pôster de “O Clube dos Cinco” (1985).

É claro que as críticas do público têm sentido e são bastante validas, principalmente ao se comparar o filme de 1986 com a obra original de 1974. Onde o primeiro Massacre da Serra Elétrica era sombrio, sujo e descolorido, este segundo filme é claro, limpo e cheio de cores. Enquanto o primeiro apresentava uma imagem crua e repulsiva da humanidade e fazia críticas ao consumo de carne, a mecanização da indústria e ao isolamento humano e tudo que isso implicava, este deixou as críticas sociais de lado e mostrou uma humanidade mais bizarra e excêntrica, pendendo sempre mais para o humor e menos para o terror. As diferenças claras entre as duas obras não impediram que O Massacre da Serra Elétrica 2 tivesse o mesmo destino da obra original e fosse banido em alguns países, como Alemanha, Austrália e Singapura.

Entretanto, com o passar do tempo e, principalmente, diante das continuações cada vez piores e mais absurdas, muitos fãs começaram a ver esse filme com outros olhos e ele ganhou sua própria legião de fãs. Obviamente, este é um filme trash, com um roteiro destrambelhado, situações absurdas e personagens caricatos. Mas, comparado ao que ainda viria a ser mostrado futuramente na saga (como o pavoroso “Massacre da Serra Elétrica- A Nova Geração” de 1995), esta obra tem seus méritos, como o humor satírico e a presença de Chop Top, que marcou boa parte do público com suas maluquices. 

O personagem foi tão marcante que conseguiu gerar um filme próprio: “All American Massacre” (2000) foi dirigido por William Hooper, filho de Tobe Hooper, e traria Bill Moseley de volta ao papel do maluco com a placa de metal na cabeça. Infelizmente, o filme acabou nunca sendo lançado, devido a problemas com os direitos autorais. 

Bill Moseley como Chop Top em um pôster para "All American Massacre"

Outro ponto marcante foram os efeitos especiais realizados por Tom Savini, um mestre dos efeitos visuais, que trabalhou em filmes de terror clássicos como “Sexta-Feira 13” (1980) e “Despertar dos Mortos” (1978).

Tom Savini e Caroline Williams confraternizando durante as filmagens de O Massacre da Serra Elétrica 2

Ao fim e ao cabo, O Massacre da Serra Elétrica 2 pode não ser um filme perfeito ou a sequência que o filme de 1974 merecia, mas com certeza é um filme trash muito divertido e que vale a pena ser apreciado pelos fãs do gênero.

 

 

 

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