Terror na Ponte de Londres (1985)
Ponte de Londres. Inglaterra, 1888.
O terrível assassino em série Jack, o
Estripador é encurralado pelo Scotland Yard sobre uma das pontes do rio Tamisa.
Ao tentar escapar, o assassino é baleado várias vezes. Ferido mortalmente, Jack
se apoia na ponte, o que faz com que uma das pedras se solte e caia no rio,
junto com o corpo de Jack.
Ponte de Londres. Lago Havasu, Arizona, 1985.
A pequena cidade de Lake Havasu comprou a antiga
ponte de Londres e a transferiu da Inglaterra para as margens do lago que dá
nome a cidade. Recentemente, a última pedra que faltava na ponte foi encontrada
no fundo do Tamisa e enviada para a cidade, que preparou um grande festival pra
comemorar o termino da reconstrução da ponte.
Porém, na noite anterior ao festival, uma mulher chamada Alice Williamson (Barbara Bingham) caminha pela ponte e acaba sofrendo um pequeno acidente. A mão da mulher se corta e uma gota de sangue cai sobre uma das pedras da ponte, justamente a mesma pedra em que o sangue do Estripador caiu a quase cem anos. Em contato com o sangue da mulher a pedra começa a fumegar e a emitir estranhas luzes. E então, inexplicavelmente, Jack, o Estripador renasce e ataca a mulher, matando-a degolada.
No dia seguinte, enquanto a cidade comemora o término da ponte, o marido da mulher assassinada, Dave Williamson (Michael Boyle), procura a polícia para denunciar o desaparecimento de sua esposa. Inicialmente, ninguém parece dar importância ao homem. Apenas Don Gregory (David Hasselhoff), um policial recentemente transferido de Chicago e que carrega um trauma de seu passado, resolve dar atenção ao marido preocupado e começa uma investigação sobre o desaparecimento.
Pouco depois, o corpo de Alice é encontrado por Angie (Stepfanie Kramer), a jovem dona de um barco de turismo e Don acredita que se trata de um caso muito sério. Porém, as autoridades locais estão muito mais preocupadas com o turismo e não pretendem dar atenção as preocupações de Don, que precisará contar com o auxílio de Angie (com quem começará um romance).
Enquanto Don investiga o assassinato, Jack (Paul Rossilli) está tentado retornar ao seu tempo e lugar de origem. De alguma forma, que o roteiro nunca explica, o assassino sabe que precisa matar a mesma quantidade de mulheres que matou em Londres e nas mesmas datas dos assassinatos originais e assim poderá voltar no tempo.
Terror na Ponte de Londres é um filme feito para a televisão pela famosa rede de televisão nova iorquina NBC e acabou sendo lançado com vários nomes, tais como “Bridge Across Time” (Ponte Através do Tempo), “Arizona Ripper” (Estripador do Arizona) ou “Terror at London Bridge”, nome pelo qual seria mais conhecido e no qual seria baseado o título que recebeu no Brasil. Com direção de E. W. Swackhamer (conhecido por trabalhar em séries de TV como “Lei e Ordem”) e roteiro de William F. Nolan (conhecido por ter escrito o roteiro do filme clássico de ficção cientifica “Fuga no Século 23”, de 1976), o filme foi feito com um orçamento mínimo (o que fica óbvio durante toda a produção) e buscava atrair o público com a presença de atores conhecidos e um roteiro absurdo, mas que prometia ser muito divertido.
Nos anos 1980, David Hasselhoff (também conhecido pelo apelido de “The Hoff”) estava em seu auge devido ao sucesso da série “A Super Máquina” (1982-1986), onde interpretava Michael Knight, um combatente do crime que é auxiliado por K.I.T.T., um carro ultra moderno e inteligente, cheio de recursos. Também atuaria como o salva-vidas Mitch Buchannon em “S.O.S. Malibu” (1989-2001), ao lado de Pamela Anderson e Carmen Electra. Curiosamente, tanto “A Super Máquina” (Knight Rider, no original) quanto “S.O.S. Malibu” (Baywatch, no original) também foram produzidas pela NBC. Assim sendo, não é de estranhar que Hasselhoff fosse escolhido para estrelar um filme produzido pelo mesmo canal de televisão onde já trabalhava.
Outra estrela conhecida que aparece nesta obra
é Adrienne Barbeau, que interpreta a bibliotecária Lynn Chandler. Barbeau era um
símbolo sexual nos anos 1980 e estrelou vários filmes conhecidos dessa década,
como “A Bruma Assassina” (1980) e “Fuga de Nova York” (1981). Ela também havia
sido casada com o grande diretor John Carpenter, com quem tinha se divorciado
um ano antes de filmar este filme com Hasselhoff.
Todavia, apesar de ter alguns rostos conhecidos
do público, o filme sofre muito com as atuações forçadas e caricatas de praticamente
todos os atores que aparecem em tela.
Além das atuações de baixa qualidade, o roteiro deste filme é igual um queijo suíço, ou seja, cheio de furos. Para começar, nunca é explicado exatamente como acontece a magia que permite que Jack, o Estripador seja transportado por quase um século. A situação simplesmente acontece e pronto. Da mesma forma, como é possível que Jack saiba que tem que matar a mesma quantidade de mulheres e nas mesmas datas de seus assassinatos originais e que assim poderá voltar ao seu tempo? Em certo momento, o assassino escreve uma carta aos jornais afirmando que “a pedra me disse para fazê-lo”. Mas tudo é muito vago e sem desenvolvimento nenhum.
Igualmente vago é a forma como Don Gregory descobre que o autor dos assassinatos é Jack, o Estripador original. Por acaso o policial estava lendo livros sobre o famoso assassino londrino e juntou as informações com o que lhe disse sua colega da equipe de perícia (Cameron Milzer), e pronto: Jack, o Estripador é o culpado. Aliás, o conceito de “sangue antigo” que a perita utiliza é de fazer qualquer especialista em criminologia querer arrancar os olhos de vergonha.
Talvez o maior erro do roteiro tenha sido o de desperdiçar a figura de Jack, o Estripador, talvez o maior e mais famoso assassino de todos os tempos, em uma trama tão desinteressante e pouco elaborada.
O filme ainda tenta se levar a sério e inserir alguns momentos de drama que são completamente inúteis e terrivelmente chatos. Para completar, o “plot twist” que deveria ser o clímax do filme é revelado logo no fim do segundo ato, desperdiçando a única boa ideia que o filme estava tentando desenvolver.
Porém, o mais interessante de tudo relacionado a
esse filme é o fato de que ele está baseado em um evento real.
Não, Jack, o Estripador não reviveu nos anos 1980 e começou a matar pessoas. O evento real em que se baseou esta obra foi a ponte de Londres transferida para os Estados Unidos.
Na primeira vez em que vi este filme, pensei
que a história de que a ponte de Londres tinha sido transferida da capital britânica
e remontada em uma pequena cidade nos Estados Unidos era uma das muitas
loucuras do roteiro, algo inventado para dar um pouco mais de sentido ao
absurdo ressurgimento de Jack, o Estripador nos dias atuais. Entretanto, a história
da ponte, apesar de incrível, é real. Aliás, sendo sinceros, este talvez seja o
único ponto interessante neste filme.
A cidade de Londres possui várias pontes que atravessam o rio Tamisa. A mais famosa de todas é a Ponte da Torre de Londres, construída entre 1886 e 1894. Porém, existem muitas mais, algumas ainda mais antigas.
Uma destas pontes, inaugurada em 1831, acabou
se tornou um problema para o governo londrino já no inicio de 1900, quando se
descobriu que ela estava afundando lentamente no rio, devido ao trafego intenso
que a atravessava todos os dias, gerando um estresse que sua estrutura não
estava preparada para suportar. Em 1924, algumas medições mostraram que o lado
leste da ponte estava nove centímetros mais baixo que o lado oeste. O problema
estava se agravando lentamente, mas a burocracia típica de qualquer governo
acabou fazendo que a situação se arrasta-se, até que foi tomada a decisão de
colocar a ponte a venda.
Foi então que surgiu Robert P. McCulloch, um investidor americano do ramo petrolífero que tinha fundado recentemente uma pequena cidade nas margens do lago Havasu, um lago artificial gerado por uma represa no rio Colorado. A cidade estava localizada nas terras que o governo dos Estados Unidos tinha cedido para McCulloch, com o acordo de que ele as desenvolvesse economicamente. Ao saber sobre a oferta da venda da ponte, McCulloch imaginou que a transferência dessa ponte para sua cidade ajudaria a atrair turistas para a região. Assim sendo, ofereceu 2,4 milhões de dólares e arrematou a ponte.
Em 1968, a ponte foi desmontada e transportada
em navio até a Califórnia, nos Estados Unidos. Depois, seguiu em caminhões até
o interior do Arizona, onde foi remontada. Como não havia um rio no local,
apenas o lago artificial, um canal de um quilometro de comprimento foi escavado
para que as águas do lago corressem por debaixo da ponte. Toda a operação, incluindo
a compra, o transporte, a reconstrução e a escavação do rio artificial,
custaram mais de 12 milhões de dólares para Robert P. McCulloch. Entretanto,
seu plano deu certo e a região acabou se desenvolvendo nos anos seguintes e ele
conseguiu recuperar seu investimento com a venda de terrenos na cidade.
A obra foi inaugurada em 10 de outubro de 1971, com uma grande festa, que contou inclusive com a presença do prefeito de Londres. Atualmente, a ponte é um grande ponto turístico e atrai milhões de visitantes todos os anos. Se você quiser saber mais sobre esta incrível história, lhe recomendo este site: https://www.magnusmundi.com/como-uma-ponte-de-londres-foi-parar-na-america/, onde obtive a maioria dos detalhes aqui colocados e algumas das imagens que ilustram esta resenha.
E aí está. Terror na Ponte de Londres é um filme absurdo, com um roteiro insano e cheio de falhas e coroado por atuações ridículas, mas que vale a pena conhecer por todos os seus pontos históricos muito interessantes e por ser um óbvio produto de seu tempo.
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